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domingo, 7 de outubro de 2012


Os ciganos na Europa: uma história de discriminação e segregação

Hoje, na seção Mulheres pelo Mundo, Renata Neder, assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil, fala sobre o preconceito sofrido pelo povo cigano.

Livros cuidadosamente desenhados e decorados e cadernos preenchidos de textos escritos com letras caprichadas restavam destruídos em meio aos escombros das casas demolidas. Esse cenário é o que restou depois da remoção de famílias ciganas de suas casas, sem aviso prévio. Móveis, roupas, utensílios de cozinha, tudo se perde quando os tratores avançam sobre as casas. As crianças não puderam nem salvar seu material escolar. No fim, ficaram apenas os escombros, e nenhum lugar onde morar. 

Isso não é ficção. É uma cena real que, infelizmente, tem acontecido com frequência. Hoje, alguns países da Europa aprofundam a política de remoção forçada de ciganos de suas casas e destruição de seus assentamentos.

Na periferia de Roma, o assentamento cigano Tor de’ Cenci surgiu há uns 15 anos atrás e já estava bastante consolidado, tinha até sistema de esgoto. Grande parte da comunidade de 400 pessoas é oriunda da Bósnia ou Macedônia. Mas as crianças já são nascidas na Itália, frequentavam regularmente o colégio e viviam, de certa forma, uma inserção maior na sociedade. Tinham mais acesso a serviços e direitos básicos, como saúde e educação.

Mas, desde 2008, o contexto mudou. O governo de Silvio Berlusconi declarou “emergência nômade” dando poderes especiais a alguns oficiais para lidar com os assentamentos de ciganos. A medida abriu portas para uma série de ações locais discriminatórias contra os ciganos.

A administração de Roma, por exemplo, anunciou um novo “plano nômade” que previa, dentre outras coisas, a remoção do assentamento Tor de’ Cenci. Os moradores seriam transferidos para um novo campo chamado La Barbuta, inaugurado em junho deste ano.

La Barbuta foi construído fora da cidade de Roma e é totalmente rodeado de cercas e câmeras. A maioria das pessoas não quer ser transferida para lá. Alí, ficarão totalmente isolados, segregados, excluídos da vida normal da cidade. Mas parece que a intenção das novas políticas voltadas para os ciganos é mesmo essa: segregar, expulsar da cidade.

Desde então, os moradores de Tor de’ Cenci vivem a apreensão do despejo iminente, que acabou acontecendo nos últimos dias de setembro. 

A remoção e segregação dos ciganos em campos específicos não sai barato. Em Roma e Milão, algo em torno de 1.000 assentamentos ciganos foram removidos desde 2007. Cada remoção pode custar algo em torno de 10 a 20 mil Euros. Faz as contas… Outros 10 milhões de Euros foram usados para construir o campo de La Barbuta.

E a pergunta que fica é: porque todo esse recurso não é utilizado para proporcionar moradia adequada e integrar os ciganos à cidade? Provavelmente, a resposta reside em antigos (antigos?) preconceitos e discriminação.

Os ciganos, em geral, são vistos como um povo que é nômade e não quer se fixar. Ainda são tratados como forasteiros indesejáveis que não merecem um futuro digno, que não merecem sequer serem ouvidos. Mas, na verdade, a esmagadora maioria dos quase 170 mil ciganos da Itália não são nômades e desejam se integrar à sociedade.

Essa política de remoção e segregação é discriminatória e uma clara violação de direitos humanos, inclusive o direito à moradia adequada. E não é uma prática isolada da Itália. Acontece também na França, na República Tcheca, na Sérvia, na Romênia.

Atualmente, são mais de 10 milhões de ciganos morando na Europa. Em geral, tem pouco acesso à educação e saúde e vivem em condições precárias. Dezenas de milhares moram em assentamentos isolados sem eletricidade ou água. Com frequência, são removidos de suas casas e não recebem qualquer alternativa. Quando são reassentados, geralmente é em campos isolados e segregados, localizados em áreas desvalorizadas e inadequadas (próximos a lixões, sem saneamento e água potável).

Hoje, a discriminação, na lei e na prática, impede que os ciganos usufruam de seus direitos. Isso é uma dura realidade. E não basta a gente se indignar ao ler as notícias ou ao ver as imagens. A indignação, sozinha, não muda essa realidade. Chegou a hora da gente fazer alguma coisa para acabar com a discriminação contra os ciganos na Europa e no mundo.

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