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domingo, 7 de outubro de 2012


Um filho e nada mais
Taxa de fecundidade das brasileiras atinge índices europeus. Média é de um filho por mulher, número bem abaixo da necessidade de reposição populacional
Quando alguém entra na loja de fantasias, Maressa Tixiliski é obrigada a dividir a sua atenção entre o potencial cliente e a filha Isadora, de 7 meses. Ela não tem com quem deixar a bebê e, por isso, precisa levá-la ao trabalho. Maressa atende sozinha no seu próprio estabelecimento – é dona, gerente e vendedora, tudo ao mesmo tempo. Foi diante dessa nova rotina, bastante puxada, que ela, aos 27 anos, refletiu sobre a possibilidade de ter outros filhos e tomou a decisão: vai ser mãe apenas uma vez na vida. “Estou sobrecarregada”, diz.
A microempresária não está sozinha nessa escolha. Pelo contrário. As brasileiras estão refletindo cada vez mais sobre a possibilidade de postergar a gravidez e de dedicar mais tempo ao trabalho, a uma viagem longa ou a cursos de mestrado e doutorado. O resultado é que, na média brasileira, elas não chegam mais a ter dois filhos.
Tendência
Planejamento adia gravidez para uma idade mais madura
É bem provável que as avós e bisavós de hoje tenham tido seus filhos com 13, 15, 20 anos de idade. Não mais que isso. Essa tendência de casar e ser mãe muito cedo passou, mas, mesmo assim, até os anos 2000, ainda havia muitas jovens que engravidaram sem ao menos terem completado 15 anos. A realidade, agora, se mostra mais animadora.
Dados do IBGE sobre o número de mulheres com filho por faixa etária mostram que houve, de 2000 para 2010, uma queda no porcentual de mulheres que tiveram filhos entre 10 e 29 anos. Por outro lado, houve um aumento, no mesmo período, na quantidade das que tiveram filhos depois dos 30 anos.
Isso significa que elas estão planejando mais a gravidez e adiando o sonho de ser mãe para uma idade mais madura. “Não é que as mulheres antes queriam ter tantos filhos, é porque elas não tinham acesso a métodos contraceptivos, não conseguiam se planejar”, explica Karin Luhm, diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria de Saúde de Curitiba.
Mais reflexão
A demógrafa Laura Wong, da Universidade Federal de Minas Gerais, lembra ainda que as mulheres passaram a refletir e comparar se seria o momento de ter filho ou fazer mestrado, se seria hora de ser mãe ou de usar o dinheiro para uma viagem internacional.
Dados sobre o perfil das mulheres que tiveram filho em Curitiba revelam como elas têm reduzido a quantidade de gestações. Em 2000, por exemplo, 45% das que fizeram o parto na capital disseram ser mães pela primeira vez. Em 2010, esse índice subiu para 51%.
Estudo
A chance de entrar na escola e investir no estudo fez com que as jovens cada vez mais tivessem perspectivas melhores de futuro, planejando a carreira que querem seguir e, assim, adiando a ideia de ser mãe. É provavelmente isso o que explica o fato de Curitiba ter reduzido o número de gestantes que não haviam completado nem o ensino fundamental.
Em 2000, 40% das grávidas em Curitiba que tiveram bebê tinham menos de sete anos de estudo. Em 2010, o índice despencou para 18%. “É uma mudança de comportamento enorme. Essas mulheres terminam os estudos e vão para o mercado de trabalho. Deixam para mais tarde a questão materna”, afirma a diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria de Saúde de Curitiba, Karin Luhm.
A queda foi brusca na última década: em 2000, a taxa de fecundidade era de 2,35 filhos por mulher, índice que baixou para 1,90 em 2010 (queda de 19,14%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ter um único herdeiro já é algo comum entre as mulheres do Centro-Oeste, Sudeste e Sul. No Norte e Nordeste, elas ainda têm, em média, dois filhos, mas os dados dos últimos dez anos (2000-2010) revelam que a maior redução no porcentual de filhos por mulher ocorreu nessas regiões: antes costumava-se ter três crianças.
“É uma nova concepção de vida das brasileiras que começou a ser adotada nas regiões mais ao Sul e rapidamente se refletiu nas mulheres que vivem mais ao Norte do país. Por isso, no Norte e no Nordeste, a queda foi maior e mais rápida”, explica a demógrafa Laura Wong, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais.
Outro dado salta aos olhos: houve uma redução significativa no número de filhos entre as mulheres com renda per capita familiar menor de R$ 70. Em 2000, elas tinham, em média, cinco filhos, agora são três, uma queda de 30,19%. “A mulher hoje pensa com mais segurança sobre o número de filhos que vai ter e em que período da vida dela isso vai acontecer. Ela tornou mais consciente a escolha de ser mãe”, diz a diretora do Centro de Epidemiologia, da Secretaria de Saúde de Curi­tiba, Karin Luhm.
Reposição
A queda na taxa de fecundidade brasileira vai impactar na reposição da população a médio prazo. Para repor uma geração inteira são necessárias 2,1 crianças por mulher. Como a média nacional caiu para 1,90, isso significa que o Brasil em breve verá sua população encolher e, ao mesmo tempo, envelhecer. “Isso vai ser percebido lá pelos anos 2040 e, por mais que saibamos que teremos problemas, é difícil que haja uma reversão nesses números”, aposta Laura.
Os fatores dessa mudança são diversos. A demógrafa acredita que o principal é uma maior reflexão feminina sobre a própria vida. “Praticamente todas as casas têm televisão que mostram que há desemprego, violência nas ruas, inflação e, sobretudo, meios para controlar o número de filhos. Antigamente, as mulheres que ficavam somente em casa nem sabiam que havia desemprego. Hoje, elas fazem cálculos”, explica.
A hora certa
Qual o melhor momento da vida para engravidar? Por quê?
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1304808&tit=Um-filho-e-nada-mais

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