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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mercado Ético Blog Archive » Chegada a hora de mudar

Infelizmente, apesar da recente propagação, o tema não é novo e os desafios se tornaram apenas mais complexos e integrados.
Para ilustrar o que penso sobre a mudança, utilizarei a frase do ilustríssimo professor Paulo Freire: “O caminho se faz caminhando”. Mas isso me remete a algumas perguntas que julgo importantes. Para onde estamos caminhando? Qual é o caminho correto? Qual direção nos levará à mudança que realmente precisamos?
É fato consumado que o processo do desenvolvimento de nossas habilidades humanas aflorou a necessidade de mudar, de desenvolver. Entretanto, hoje, acredito que o conceito de desenvolvimento está desfigurado. O simples processo de amadurecimento passou a ser compreendido pelo capital acumulativo, em especial no que se refere à economia e aos bens de consumo. Mas e os valores humanos? E a ética?
No discurso mais aclamado da Rio+20, o presidente do Uruguai, José Mujica, falou da importância de se eliminar a pobreza e lançou a seguinte pergunta: “Qual o modelo de desenvolvimento que queremos?” Para ele, o desafio que temos daqui para a frente é enorme. E, diferentemente do que muitos pensam, a crise não é socioambiental, mas sim política!
Para elucidar a sua percepção sobre riqueza, Mujica utilizou da filosofia de Epicureo e Sêneca: “Pobre não é o que tem pouco, mas sim o que necessita infinitamente muito e deseja mais e mais”.
Para mim, o discurso de Mujica vai ao encontro do que Félix Guattari dispõe em sua obra sobre o comportamento da humanidade. Estamos mais integrados ao mundo do que imaginamos e todas as nossas ações e escolhas refletem no estilo e na qualidade de vida que queremos.
Guattari, através da filosofia, apresenta questões relativas à natureza humana e ao meio que o cerca. Para ele, as soluções existem e a crise que aflige as três ecologias (ambiental, social e tecnológica) é fruto da ausência da ética. Indo muito além das formas de integração econômica, muitas vezes apresentadas pela própria sociedade civil como soluções para o desenvolvimento e sustentabilidade, a valorização do ser humano e as ações éticas são mais necessárias do que a cooperação financeira e a transferência tecnológica.
A Rio+20, que teve o objetivo de assegurar um comprometimento político renovado com o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso feito até o momento e as lacunas que ainda existem na implementação dos resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento sustentável, mobilizou mais de 100 chefes de Estado e de Governo e delegações de 191 países, com mais de 45 mil participantes credenciados, sendo mais de 18 mil pessoas da sociedade civil.
Já o Aterro do Flamengo, palco da Cúpula dos Povos e da Arena Socioambiental, registrou-se a presença de mais de 30 mil participantes por dia, com um riquíssimo processo de mobilização social e discussão. Mas qual foi o resultado prático disso? Tanto sociedade civil quanto governos não conseguiram pautar a mudança que precisamos.
Não há como negar que a Conferência ampliou a capacidade de incidência da sociedade civil nos processos decisórios, abrindo precedente para a consolidação de um novo processo de governança, pautado no diálogo e na ampla participação social. Mas e as soluções? A mudança nos padrões de produção, distribuição e consumo?
A crise é complexa, multidimensional, e suas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida: a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e as relações sociais, a economia, tecnologia e política. Esse é um momento que exige a reformulação de nosso comportamento perante a natureza e perante a própria civilização humana.
As soluções não serão encontradas na superação da crise econômica, no desenvolvimento contínuo de novos meios técnico-científicos e no reequilíbrio das atividades socialmente úteis. Precisamos ir além disso! A crise é ética e o nosso modelo político frágil e superado não terá a capacidade de transformar a nossa realidade.
A sociedade civil, organizada ou não, precisa ir às ruas lutar por uma transformação real. Uma verdadeira inclusão social que garanta empregos, inclusão, diminuição das desigualdades e a reconstituição das instituições que estão falidas, entre elas a própria percepção de família.
Por fim, precisamos gerar superávit de coisas que realmente importam: o tempo de lazer, comunidade, senso de significado em nossas vidas; o bem-estar. É chegada a hora de mudar e, para isso, precisamos não só modificar as nossas escolhas, mas rever os nossos valores e o nosso comportamento perante o mundo. Essa é a verdadeira transformação social e o caminho mais curto para a sustentabilidade.
Discurso de Mujica, presidente do Uruguai, na Rio+20.

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