Conselho da Europa quer proibir ritual milenar para meninos por ser uma “violação da integridade física da criança”. Ignorância ou preconceito?
por Gianni Carta
Ironia das ironias: a organização internacional defende principalmente direitos humanos, mas não parece entender nada do assunto. E mostra seu preconceito religioso e ignorância ao comparar a circuncisão de meninos, uma prática milenar religiosa e também levada adiante por motivos higiênicos, à circuncisão feminina, ou, em outras palavras, a mutilação do clitóris.
A mutilação do clitóris, e até a remoção dos lábios vaginais, tem somente um objetivo: tirar o prazer sexual da mulher.
Por sua vez, a remoção do prepúcio, que pode ser motivada por mera higiene, é um procedimento adotado por famílias de religiosos, agnósticos e ateus para, entre outros, evitar infecções e câncer do pênis. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), circuncidados são mais imunes ao vírus HIV da AIDS, embora a organização recomende sempre o uso de preservativos. Ainda segundo alguns estudos, a ausência do prepúcio prolonga os encontros sexuais e torna o homem menos apto a ter ejaculação precoce. Segundo a OMS, são circuncidados cerca de 30% dos homens espalhados mundo afora.
Grupos religiosos são mais contundentes.
Na França, país de ponta em termos de reivindicações, mais de 6 mil almas informadas tinham até esta segunda-feira 28 assinado uma petição intitulada “não ao banimento contra a circuncisão” redigida pelo CRIF, conselho a aglutinar comunidades judaicas. Entre os signatários constam políticas de envergadura como a ex-ministra Nathalie Kosciusko-Morizet, a candidata à prefeitura de Paris, Anne Hidalgo, e o famoso escritor e cineasta Claude Lanzmann. Acadêmicos, incluindo o padre católico especializado no Holocausto, Patrick Dubois, também assinaram a petição.
A resolução não vinculativa estigmatiza os judeus, dizem os signatários da petição. E como. Foi Abraão quem recebeu a ordem de pôr em prática a circuncisão entre os judeus. Ela foi herdada dos egípcios faraônicos. Deus então disse a Abraão que esta seria a Aliança entre Ele e o povo judeu. A questão é, portanto, existencial para a comunidade judaica. A ponto de o presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, ter dito em julho de 2012,quando da proibição da circuncisão em Colônia, Alemanha: “Esse foi o pior ataque à vida judaica desde o Holocausto”.
Na Roma antiga, centuriões pediam para os suspeitos levantar suas túnicas. Se não fosse constatado prepúcio, a vítima pagava um fiscus judaicus, que ia não para o Templo de Jerusalém, como prometido, mas direto para as caixas do Estado.
Na verdade, o preconceito é também contra os muçulmanos. Embora a circuncisão não seja citada no Alcorão, trata-se de uma prática pré-islâmica, provavelmente por motivos de higiene. De fato, quando a circuncisão foi banida em Colônia no ano passado, os mais afetados foram os muçulmanos, estes mais numerosos do que os judeus. A Associação Médica Alemã apoiou, diga-se, a decisão dos juízes do tribunal de Colônia.
De fato, há quem diga que os muçulmanos foram o alvo-mor da corte distrital de Colônia. Com a morte por hemorragia de um muçulmano de 4 anos, após uma circuncisão, o procedimento médico passou a ser ilegal na cidade alemã.
O Hospital Judeu de Berlim parou de fazer circuncisões, algo que fazia há 250 anos para bebês judeus e muçulmanos. Pais muçulmanos, judeus – e todos aqueles que querem evitar infecções para seus bebês ao optar por circuncisões – passaram então a confiar seus rebentos de oito dias (no caso dos judeus, e mais velhos para outros credos) a “médicos” sem estruturas higiênicas.
De qualquer forma, a decisão da corte de Colônia e agora do Conselho da Europa, temerosas da “islamização” do Velho Continente, parecem visar antes de tudo os muçulmanos. E, por tabela, os judeus, católicos, gente de qualquer credo – e agnósticos e ateus.
por Gianni Carta
Ironia das ironias: a organização internacional defende principalmente direitos humanos, mas não parece entender nada do assunto. E mostra seu preconceito religioso e ignorância ao comparar a circuncisão de meninos, uma prática milenar religiosa e também levada adiante por motivos higiênicos, à circuncisão feminina, ou, em outras palavras, a mutilação do clitóris.
A mutilação do clitóris, e até a remoção dos lábios vaginais, tem somente um objetivo: tirar o prazer sexual da mulher.
Por sua vez, a remoção do prepúcio, que pode ser motivada por mera higiene, é um procedimento adotado por famílias de religiosos, agnósticos e ateus para, entre outros, evitar infecções e câncer do pênis. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), circuncidados são mais imunes ao vírus HIV da AIDS, embora a organização recomende sempre o uso de preservativos. Ainda segundo alguns estudos, a ausência do prepúcio prolonga os encontros sexuais e torna o homem menos apto a ter ejaculação precoce. Segundo a OMS, são circuncidados cerca de 30% dos homens espalhados mundo afora.
Grupos religiosos são mais contundentes.
Na França, país de ponta em termos de reivindicações, mais de 6 mil almas informadas tinham até esta segunda-feira 28 assinado uma petição intitulada “não ao banimento contra a circuncisão” redigida pelo CRIF, conselho a aglutinar comunidades judaicas. Entre os signatários constam políticas de envergadura como a ex-ministra Nathalie Kosciusko-Morizet, a candidata à prefeitura de Paris, Anne Hidalgo, e o famoso escritor e cineasta Claude Lanzmann. Acadêmicos, incluindo o padre católico especializado no Holocausto, Patrick Dubois, também assinaram a petição.
A resolução não vinculativa estigmatiza os judeus, dizem os signatários da petição. E como. Foi Abraão quem recebeu a ordem de pôr em prática a circuncisão entre os judeus. Ela foi herdada dos egípcios faraônicos. Deus então disse a Abraão que esta seria a Aliança entre Ele e o povo judeu. A questão é, portanto, existencial para a comunidade judaica. A ponto de o presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, ter dito em julho de 2012,quando da proibição da circuncisão em Colônia, Alemanha: “Esse foi o pior ataque à vida judaica desde o Holocausto”.
Na Roma antiga, centuriões pediam para os suspeitos levantar suas túnicas. Se não fosse constatado prepúcio, a vítima pagava um fiscus judaicus, que ia não para o Templo de Jerusalém, como prometido, mas direto para as caixas do Estado.
Na verdade, o preconceito é também contra os muçulmanos. Embora a circuncisão não seja citada no Alcorão, trata-se de uma prática pré-islâmica, provavelmente por motivos de higiene. De fato, quando a circuncisão foi banida em Colônia no ano passado, os mais afetados foram os muçulmanos, estes mais numerosos do que os judeus. A Associação Médica Alemã apoiou, diga-se, a decisão dos juízes do tribunal de Colônia.
De fato, há quem diga que os muçulmanos foram o alvo-mor da corte distrital de Colônia. Com a morte por hemorragia de um muçulmano de 4 anos, após uma circuncisão, o procedimento médico passou a ser ilegal na cidade alemã.
O Hospital Judeu de Berlim parou de fazer circuncisões, algo que fazia há 250 anos para bebês judeus e muçulmanos. Pais muçulmanos, judeus – e todos aqueles que querem evitar infecções para seus bebês ao optar por circuncisões – passaram então a confiar seus rebentos de oito dias (no caso dos judeus, e mais velhos para outros credos) a “médicos” sem estruturas higiênicas.
De qualquer forma, a decisão da corte de Colônia e agora do Conselho da Europa, temerosas da “islamização” do Velho Continente, parecem visar antes de tudo os muçulmanos. E, por tabela, os judeus, católicos, gente de qualquer credo – e agnósticos e ateus.
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