15/10/2015
Por Phumzile Mlambo-Ngcuka*
Por Phumzile Mlambo-Ngcuka*
Nova York, Estados Unidos, 15/10/2015 – Recentemente comemoramos os progressos realizados no processo de paz na Colômbia. O acordo alcançado em temas de justiça representa o sinal mais claro até agora de um possível fim de cinco décadas de conflito. Por outro lado, fala-se menos das muitas formas construtivas em que as mulheres colombianas participaram, influenciando nessas negociações ou se mobilizando a favor da paz, incluídas as muitas reuniões realizadas por mulheres sobreviventes com as mulheres das duas equipes negociadoras.
Do mesmo modo, poucas pessoas sabem que no ano passado também ocorreu o final de outro conflito que durou décadas nas Filipinas, entre o governo e a Frente Moro de Libertação Islâmica. Nessas negociações de paz, mais de um terço das pessoas encarregadas das negociações eram mulheres. Isso representa muito mais do que o habitual nas negociações oficiais que, em geral, ou são assunto apenas de homens ou envolvem pouquíssimas mulheres.
Essa participação se apoiou em uma longa história de liderança das mulheres em nível local e nacional nas Filipinas, incluídas as ações de duas presidentes, que investiram capital político no reinício das negociações com o grupo rebelde. E, enquanto as tensões colocam em risco a frágil situação de paz no Burundi, as mulheres desse país se organizaram rapidamente em uma rede nacional de mediadoras para sufocar ou mitigar a infinidade de conflitos locais e evitar sua intensificação.
Em 129 municípios de todo o país, calcula-se que foram abordados cerca de três mil conflitos locais em 2015, incluída a mediação entre forças de segurança e manifestantes, a luta pela libertação de manifestantes e presas(os) políticas(os), promoção da não violência e do diálogo entre as comunidades divididas, bem como seu trabalho para enfrentar os boatos e os temores exagerados com informação comprovável para evitar o pânico generalizado.
A ONU Mulheres teve a honra de apoiar esses esforços.
Não se trata de histórias isoladas. Um estudo exaustivo preparado para o 15º aniversário da Resolução 1325 do Conselho de Segurança – uma resolução histórica que reconhece o papel da igualdade de gênero e a liderança das mulheres na paz e na segurança internacionais – apresenta os melhores argumentos até agora para demonstrar que a igualdade de gênero melhora nossa ajuda humanitária, fortalece os esforços de proteção de nossas missões de manutenção da paz, contribui para o êxito das negociações de paz e a sustentabilidade dos acordos, e acelera a recuperação econômica depois dos conflitos.
Recopila a crescente evidência acumulada por pesquisas científicas que demonstra que nas negociações de paz nas quais há influência das mulheres existe uma probabilidade muito maior de acabar em um acordo e de perdurar. De fato, a probabilidade de um acordo durar 15 anos aumenta em até 35%.Nos casos em que as comunidades afetadas por conflitos se esforçam para empoderar as mulheres, ocorre uma recuperação econômica e uma redução da pobreza mais rápida e resultados humanitários muito melhores, não só para as mulheres e as meninas, mas para as populações inteiras.
Em um mundo em que os extremistas fazem da subordinação das mulheres um aspecto principal de sua ideologia e táticas de guerra, a comunidade internacional e as Nações Unidas deverão colocar a igualdade de gênero no centro de suas intervenções de paz e segurança. Além das políticas, das declarações e aspirações, a igualdade de gênero deve impulsionar nossas decisões sobre as pessoas que contratamos e em que gastamos nosso tempo e dinheiro.
Está claro que devemos nos esforçar para conseguir mudanças tangíveis para as mulheres afetadas pela guerra e aproveitar a capacidade extremamente ignorada das mulheres para evitar esses conflitos.
Os países devem fazer mais para aproximar as mulheres das mesas de negociação em todas as conversações de paz. A sociedade civil e os movimentos de mulheres contribuem extraordinariamente para os processos de paz eficazes. Sabemos que, quando as e os representantes da sociedade civil participam dos acordos de paz, é 64% mais provável que estes tenham êxito e sejam duradouros.
Chegou o momento de pôr fim à dominação dos processos de paz por aqueles que lutam nas guerras e a desqualificação das pessoas que trabalham pela paz. Chegou o momento de acabar com o investimento insuficiente em igualdade de gênero. A porcentagem de ajuda aos Estados frágeis que está orientada para a igualdade de gênero como um dos objetivos principais é de apenas 2%. A mudança exige medidas audaciosas, e não pode ocorrer se não houver investimento.
Agora chegou o momento. No dia 25 de setembro, os países das Nações Unidas adotaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que expressa a intenção de “velar para que todos os seres humanos possam tornar realidade seu potencial com dignidade e igualdade” e “propiciar sociedades pacíficas, justas e inclusivas, livres do temor e da violência”.
Dois dias depois, 72 chefes de Estado e de governo participaram da nossa Reunião de Líderes Mundiais para destacar o apoio de alto nível para a igualdade de gênero e se comprometer a tomar medidas concretas. Além disso, no dia 13 de outubro, o Conselho de Segurança comemorou o 15º aniversário da Resolução 1325, para injetar nova energia, novas ideias e novos recursos à liderança das mulheres para a paz.
Em um mundo tão afetado por conflitos, extremismo e deslocamento de pessoas, não podemos depender apenas das faíscas de esperança que despertam as ações extraordinárias de pessoas comuns. Precisamos de toda a força de nossas ações coletivas e da coragem política das e dos líderes da comunidade internacional. Afinal, os aniversários devem servir para algo mais além de contar a passagem dos anos. Devem ser o momento de convertermos as palavras em ações. Envolverde/IPS
* Phumzile Mlambo-Ngcuka é secretária-geral adjunta das Nações Unidas e diretora-executiva da ONU Mulheres.
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