- Escape da armadilha de se tornar refém do próprio ciúmeHeloísa NoronhaDo UOL, em São Paulo
Orlando/UOLQuando as cenas de ciúme são constantes, mesmo que um dia você tenha razão, ninguém leva a sério
Quem sente ciúme em excesso, e não se acanha em demonstrá-lo publicamente, acaba se tornando uma figura folclórica socialmente. De tão acostumados aos barracos e ataques de insegurança, amigos, familiares e colegas de trabalho passam a encarar as crises como triviais. Ou seja: ninguém leva a pessoa ciumenta a sério nem mesmo quando ela está coberta de razão.
Exemplos? Situações tensas como o amado não tirar o olho da garota da mesa ao lado no barzinho ou quando a namorada não faz nada para cortar um paquera insistente. Todo mundo teria o direito de reclamar, mas, como os muito ciumentos colecionam situações constrangedoras, qualquer indício de manifestação de insegurança é tido como exagero, chilique ou fruto de uma imaginação fértil.
Se você se identificou com esse padrão, saiba que para mudá-lo não adianta trocar de parceiro, mudar a turma de amigos ou ignorar os comentários dos parentes. Cabe a você refletir e tentar modificar não a relação com os outros, mas o modo como se relaciona com o ciúme. Mesmo porque não há como mudar a imagem sem primeiro realizar uma transformação interna.
"As pessoas interpretam o que veem e não há nada fazer. Dar bronca no parceiro em público é tido como sinal de destempero. Quem não se coloca como refém do ciúme chamaria o namorado para conversar a sós, depois, e só então perguntaria o que quer saber", diz a psiquiatra e psicanalista Helena Masseo de Castro.
Para a psicanalista, quem não é ciumento talvez nem cogite a hipótese de uma traição, muito menor armaria um escândalo. "Se a pessoa apenas viu o par olhando para outra, poderia pensar que por tê-la achada bonita ou feia, por conhecê-la de algum lugar ou qualquer motivo que não necessariamente interesse", completa.
Controle seu ciúme
O ciumento precisa tentar decifrar os próprios sentimentos para aprender a controlá-los –com muito esforço e vontade de exercer o autoconhecimento ou à base de terapia, se necessário.
Segundo os especialistas, os ciúmes ocorrem em quem é inseguro e que não enxerga ou não valoriza suas qualidades.
"Para combater o próprio ciúme, assuma sua existência e trace as condições que o sucederam. Será que tem a ver com deficiência de estruturas emocionais sólidas? Ou é fruto de uma experiência ruim com traição, daí a dificuldade em estabelecer uma relação madura, baseada na confiança?", pergunta Alexandre Bez, psicólogo especializado em relacionamentos pela Universidade de Miami.
Até mesmo a história dos pais, como o fato de um dos dois sentir muito ciúme do outro, pode levar a pessoa a aprender a se relacionar de maneira possessiva.
Para o psicólogo Rafael Higino Wagner, a reflexão sobre o sentimento pode levar à descoberta de que não são as atitudes do outro que provocam o ciúme, mas problemas de ordem pessoal. Ao ter consciência disso, fica mais fácil prestar atenção no próprio comportamento e evitar se deixar levar pela emoção e perder o controle.
"Principalmente em público, pare, respire, inspire e reflita sobre a situação que te incomodou. Pergunte-se se realmente algo está acontecendo e se existem motivos concretos para os pensamentos que tem", fala Rafael.
Se algo lhe incomoda, converse tranquilamente, exponha seu ponto de vista, proponha um posicionamento e diga que não aceita deslealdade. Mas tudo isso a sós, em casa, e só depois de ter certeza de que sua reclamação tem fundamento.
Analisar os motivos que levam a se relacionar com a pessoa também costuma funcionar: faça uma lista das situações boas que viveram, do que ela é capaz de fazer por você e dos pontos fortes do romance. Tudo isso vai deixando o ciúme em segundo plano.
Outra sugestão é colocar-se mais vezes em primeiro lugar. "Pense nas coisas que gostaria de aprender e experimentar. Invista mais em você, na sua imagem e no seu aprendizado. Essas são situações que demonstram amor próprio e que, aos poucos, vão mudando a imagem que os outros têm de você", afirma Rafael.