mulheres 300x214 Mulheres somalianas e a independência econômica
Nasro Elmi tem seu próprio negócio no mercado de Bakara. Foto: Abdurraham Warsameh/IPS
Mogadíscio, Somália, 23/4/2013 – No mercado de Hamarweyne, o maior de Mogadíscio, capital da Somália, Maryama Yunis, de 24 anos, tem sucesso com seu ponto de venda de cosméticos. Há dois anos que esta jovem somaliana está no negócio, vendendo todo tipo de produto, como sabonete, xampu, batom e delineadores. Agora está começando a gerar uma renda decente.
“Conforme mais mulheres jovens somalianas se preocupam com sua aparência e gostam de se cuidar, o setor de cosméticos cresce naturalmente e eu aproveito esta demanda”, disse Yunis à IPS. Ela integra o crescente número de mulheres, nesse país tradicionalmente muçulmano conservador, que abrem seus próprios negócios para conquistar independência financeira e crescer em status socioeconômico.
Nesta nação do Chifre da África, inclusive as mulheres com educação estão destinadas a criar seus filhos, mas as atitudes da população estão se transformando, segundo a ativista social Hawa Dahir. “Os tempos estão mudando na Somália, e agora as pessoas estão mais conscientes do potencial empresarial das mulheres, e se aceita melhor que possam ter um papel na economia familiar e nacional”, explicou à IPS.
A própria Yunis tem diploma universitário. Estudou enfermagem mas optou por seguir seu sonho de abrir sua própria empresa. “Com a ajuda da minha mãe, pude convencer meu pai a permitir que eu seguisse meu sonho e abrisse o negócio. Com o dinheiro que estou ganhando fiquei mais independente e me converti em inspiração para muitas outras jovens”, afirmou.
Entretanto, para muitas somalianas, entrar no mundo dos negócios não é uma opção, mas uma obrigação devido à morte ou o desemprego do marido, segundo Dahir, que realizou estudos sobre o papel das mulheres no setor empresarial.
Faduma Maow tem uma loja no mercado de Bakara, em Mogadíscio, onde vende roupa, desde que seu marido morreu, há três anos. Ela contou à IPS que precisa levar à escola seus quatro filhos, com idades entre sete e 15 anos, antes de ir trabalhar. “É difícil ser mãe que trabalha, mas também pode ser proveitoso. Sou financeiramente independente e estou orgulhosa de dizer que progrido em minha meta de criar uma família e construir um futuro estável para mim e meus filhos”, afirmou Maow.
Segundo Dahir, embora não haja estatísticas confiáveis sobre o número de empreendedoras somalianas, sua crescente presença no setor comercial do país é “palpável”. De acordo com Rahmo Yarey, proprietária de um salão de chá, “muitas mulheres começaram seus negócios aqui no mercado de Sinai e em outros da capital. Também ouvi que o mesmo ocorre em mercados de outras regiões. As mulheres estão se convertendo nas pessoas que levam o pão para casa em nosso país”.
As somalianas participam de uma ampla gama de pequenos comércios, como venda de roupa, cosméticos, frutas, verduras e folhas de árvore de khat, que neste país se mastiga como estimulante. Há mulheres vendendo tanto em mercados quanto nas esquinas de Mogadíscio, e fazem tudo sozinhas, com pouca ajuda. As empresárias admitem que têm de enfrentar muitos desafios.
O primeiro deles é conseguir o capital inicial para seu negócio. Muitas instituições de crédito locais e internacionais fecharam suas sucursais na Somália após o colapso do governo central em 1991, que marcou o começo de duas décadas de guerra civil. Agora existem dois bancos, mas um deles se dedica apenas a administrar poupanças e remessas de somalianos no exterior. O outro oferece empréstimos, mas apenas com a contrapartida de uma garantia, e pouquíssimas mulheres neste país contam com uma.
“Não é fácil conseguir dinheiro para começar um negócio, muito menos sendo mulher”, lamentou Aisha Guled, comerciante de khat, em conversa com a IPS. Ela só pôde abrir sua loja graças ao apoio de um familiar, e desde então trabalha duro para mantê-la. “A maioria de nós começou com o pouco que pudemos juntar e depois lutamos para subir. Algumas não conseguem, outras não saem do lugar no começo, mas algumas têm sorte de conseguir lucro rapidamente e crescer”, acrescentou.
Embora as autoridades somalianas assegurem fazer todo o possível para ajudar as pequenas empresárias, um funcionário do governo admitiu à IPS que este não está em condições de oferecer apoio financeiro a elas. “A criação de um ambiente seguro para que as mulheres operem é uma prioridade”, disse o funcionário, que pediu para não ser identificado.
“Apesar dos desafios que enfrentam as empreendedoras na Somália, estas demonstram estar à altura do desafio de serem hábeis negociantes e também exercerem seus papéis como mães e esposas”, opinou Dahir. A ativista exortou os acadêmicos do país a estudarem a ascensão das mulheres no setor empresarial e na política.
“É apenas uma questão de tempo para vermos muitas mulheres se unirem aos homens de forma igualitária para a reconstrução de nosso país, afirmou Yunis. “Nossa sociedade está se transformando graças, em parte, aos tempos estarem mudando. As mulheres estarão em um mesmo plano com os homens em cada área”, ressaltou. Envolverde/IPS