Maternidade versus carreira: dá para ser feliz?
Roberta Lippi
Paola Saliby;UOL
-
Se você está infeliz no trabalho, há grandes chances de levar essas dificuldades para dentro de casa
O bom e velho dilema entre carreira e maternidade atormenta praticamente todas as mães que eu conheço. A cobrança vem da sociedade e de nós mesmas seja qual for a decisão: continuar trabalhando e deixar o filho com terceiros ou parar de trabalhar para ficar em casa e estar mais perto das crianças.
Em uma entrevista recente ao Mamatraca, a psicóloga Cecília Troiano, autora do livro "Vida de Equilibrista", lembrou que se cobrarmos uma performance nota dez em todos os pratinhos que temos de equilibrar, ficaremos absolutamente frustradas.
Não vou entrar aqui no mérito dos pais ausentes que não se preocupam com os filhos e terceirizam todas as suas responsabilidades, porque esse perfil familiar merece uma discussão à parte. Falo aqui de gente como a gente, que está sempre preocupada em acertar, se informa, se frustra e procura qualidade na relação com a família em primeiro lugar.
Para quem trabalha fora, é inevitável que a culpa apareça em alguns momentos dessa dicotomia entre vida pessoal x carreira, às vezes com maior ou menor intensidade. Os dois primeiros anos dos filhos, por exemplo, devem ser muito doloridos para quem não teve o privilégio, como eu, de poder trabalhar em casa. Outros fatores também tendem a tirar uma mãe do eixo como filhos doentes ou quando passam por uma fase difícil na família ou no trabalho.
Em resumo, não há como se livrar totalmente da culpa. Mas será que não é possível lidar melhor com ela?
No fundo, o que concluo a partir de tantas discussões sobre carreira que acompanho é que os filhos precisam de pais felizes, independentemente de suas necessidades e escolhas profissionais ou pessoais. Quando as crianças se sentem acolhidas e amadas, por mais que os pais passem o dia trabalhando, elas tendem a aceitar a situação e conviver bem com ela sem grandes frustrações.
Se você está infeliz no seu trabalho de uma maneira geral e se mantém por lá apenas porque precisa pagar as contas, há grandes chances de transportar essas dificuldades para dentro de casa, gerando estresse em todas as suas relações.
Agora, se estiver segura das suas decisões e contar com o apoio da família, sem abandonar seus valores, acredito de verdade que uma mulher possa se sentir realizada na carreira e como mãe ao mesmo tempo, mesmo que não seja perfeita nesses seus papéis –e quem é?
Acho curioso que muitas mães de filhos pequenos tenham receio de dizer que trabalham porque gostam, como se isso fosse um demérito. Falo por mim: eu não seria uma pessoa feliz se fosse dedicada à maternidade e à casa 100% do tempo. Amo minhas filhas, e a minha relação com elas é prioritária e inquestionável na minha vida, mas tenho muito prazer em trabalhar. E, fazendo o que gosto, também sou uma mãe melhor pra elas, mais leve, mais realizada.
É comum que as mães achem que tudo o que acontece de ruim com os filhos é porque elas trabalham fora e se martirizam por isso, mas uma boa indicação da psicóloga que entrevistamos é observar o comportamento dos filhos e perceber o quanto isso faz sentido. Eles devem ser o nosso maior termômetro.
Eu sempre tive em mente, mesmo antes de me casar, que eu preferia ser uma profissional "média" do que me tornar presidente de uma empresa ao custo de sacrificar minha vida familiar. Faço questão de ver as meninas crescerem e optei por não abrir mão disso. E eu me sinto infeliz na carreira por isso? Não, ao contrário. Sou a melhor profissional que eu poderia ser? Talvez não. Sou a melhor mãe que eu poderia ser? Não sei. Mas sou uma profissional que adora o que faz e, acima de tudo, uma mãe que dá muito amor e busca ser uma grande referência para as suas filhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário