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quinta-feira, 25 de abril de 2013


O feminismo acabou

"Há um modelo de gestão inventado pelos homens e para os homens. É hora de mudá-lo, sim. E não de mudar as mulheres"


Ana Paula Padrão
Poucas vezes um livro foi tão vendido e tão criticado. Principalmente pelo seu público-alvo –a mulher que trabalha. Lançado há menos de um mês no Brasil pela Companhia das Letras, com excelente prefácio da empresária Luiza Helena Trajano, “Faça Acontecer” (“Learn In”, na edição original), o “manifesto feminista” de Sheryl Sandberg, a CEO do Facebook, foi espezinhado pela crítica americana.

A antítese de Sheryl no universo feminino americano, Anne-Marie Slaughter, que abandonou um altíssimo cargo no Departamento de Estado Americano para estar mais perto dos filhos e escreveu um artigo com o título “Por que as Mulheres Não Podem Ter Tudo”, foi direta: “Sheryl Sandberg é super-humana e rica”. A maioria das estocadas começa aí. Sheryl, casada e com dois filhos, tem um exército de babás e não entende a mulher média, que cuida, muitas vezes sozinha, dos filhos e da casa.

Por isso não a representa. E não conseguiria, apesar de todo o marketing em torno de si mesma, transformar-se na “Betty Friedan da era digital”.

Li o livro antes das críticas. E não foi essa a sensação que tive depois do último parágrafo. O que me incomodou foi a impressão de ter lido um livro masculino. Datado. Um livro para a mulher dos anos 80.
É da própria Sheryl a definição de que “Faça Acontecer” é “um tipo de manifesto feminista”. Aí é que está o problema: o feminismo acabou.
Sou da mesma geração de Sheryl Sandberg. No Brasil, os anos 80 foram o marco da entrada maciça da mulher no mercado de trabalho. Naquele momento, era importante seguir o exemplo masculino nas empresas – inclusive porque não havia modelos femininos a copiar.
O princípio básico do feminismo é o de que homens e mulheres são iguais. Mas não são.
Sheryl Sandberg defende em seu livro, que as mulheres não chegam ao poder por pura autossabotagem. A autora explica o fato de que, mesmo estudando mais e sendo muito competentes, as jovens executivas freiam suas carreiras em antecipação às dificuldades que terão quando formarem família. E incita as mulheres a fazerem planos de médio e longo prazos para atingir seus objetivos profissionais, o que inclui até a escolha de um marido pela disposição dele em dividir as tarefas domésticas.
O livro está recheado de ótimas pesquisas sobre a situação da mulher no mundo corporativo. Estão ali números que provam as disparidades salariais entre homens e mulheres na mesma função e o fato de que homens são promovidos com base em seu potencial futuro e mulheres pela medição de seu desempenho passado. Sheryl explica boa parte dessas distorções pela estagnação do movimento feminista. Para ela, nós teríamos parado de lutar.
Essa história de lutas e combates me parece meio old fashioned. Estou inteiramente convencida de que as mulheres de hoje desejam, sim, uma carreira bem-sucedida. Elas apenas não querem fazer isso como os homens fizeram – ou ainda fazem. Felizmente, dezenas de empresas, inclusive no Brasil, já estabeleceram metas para tornar o ambiente corporativo mais confortável para as mulheres, e para os homens também: jornadas mais curtas, trabalho remoto, programas de mentoria.
Se as mulheres não chegaram lá ainda, a culpa não é nossa, mas de um modelo de gestão inventado pelos homens e para os homens, num momento da história em que isso fazia todo sentido. É hora de mudá-lo, sim. E não de mudar as mulheres. Se você é mulher e trabalha, deve ler o livro de Sheryl para saber como foi difícil chegar até aqui e para optar por um novo caminho para continuar avançando.
Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora

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