Sobrevivente do holocausto fala de preconceito e emociona estudantes
Aleksander Laks, de 85 anos, deu palestra em Campinas neste sábado.
'Falo da minha história porque isso não pode se repetir', afirmou.
Do G1 Campinas e Região
Observado por plateia de jovens vestibulandos com olhos vidrados e muitos deles marejados, o sobrevivente do holocausto Aleksander Laks tentou despertar nos adolescentes o perigo do preconceito ao contar neste sábado (20), em Campinas (SP), a vivência de cinco anos em campos de concentração na Alemanha e na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial.
Aleksander Laks dá palestra para vestibulandos em
Campinas (Foto: Virgginia Laborão / G1)
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"Essa história ninguém me contou, não li em nenhum livro nem ninguém me contou. Eu vivi na minha própria pele. Falo da minha história porque isso não pode se repetir", conta Laks. Radicado no Brasil, o polonês de 85 anos se intitula brasileiro de "corpo e alma" e revela o desejo de continuar contando a história do sofrimento daqueles anos para que atrocidades contra a humanidade como o extermínio de judeus não se repita.
Depois do período da guerra, ele foi libertado aos 17 anos e pesando 28 quilos. "Eu não sei como sobrevivi. Mas sei que sobrevivi para contar minha história". Segundo ele, a dieta de um judeu em um campo de concentração se limitava a 200 calorias diárias, enquanto o saudável para uma pessoa é ingerir 2,4 mil calorias. Para os concentrados nos campos, um quilo de pão deveria durar seis dias.
Direitos humanos
Em frente a uma projeção de uma das primeiras fotografias coloridas datada de 1940, na qual ele e outras crianças judias estavam registradas, Aleksander Laks retornou ao tempo de infância para relatar os horrores da guerra. "Tiraram a foto para registrar como eram os judeus, o povo que eles desejam exterminar", afirma.
Ele ressaltou aos adolescentes que o escutavam atentos, no auditório da Oficina do Estudante, para o perigo do preconceito envolvendo um grupo específico de pessoas. "Cada pessoa é uma pessoa. Não é porque é judeu ou católico que ele vai ser bom ou mau", relaciona. Para Laks, os direitos humanos tem uma relação direta com o total respeito ao próximo e à aceitação do outro.
Durante a palestra, Laks pediu que gostaria de escrever algo para mostrar aos jovens. Em meio ao burburinho que se formou, um pequeno caderno e uma caneta foram entregues ao sobrevivente. O papel, com uma suástica desenhada, começou a circular nas mãos dos presentes. "Esse símbolo, uma cruz com uns 'pauzinhos' dos lados, é exclusão, discriminação, preconceito, racismo e morte. E isso não podemos nos esquecer jamais", afirma.
Desespero
Com as mãos trêmulas, Laks bebe três goles longos de água após contar o desespero de ver uma jovem morrer de sede. "Ela gritava 'água', água. E nós não podíamos fazer nada dentro do trem, não tinha nada do que beber. Os gritos ficaram mais suaves, até que ficou tudo silêncio", diz o sobrevivente.
Enquanto permanecia escondido com a família em um dos guetos de judeus na Polônia, viu um bebê de 5 meses morrer engasgado de tanto chorar. "Tentavam fazer a criança parar porque também se preocupavam com algum alemão chegar", afirma. Segundo ele, os pais da criança acabaram por se entregar aos agentes da SS após a morte do filho.
Emocionadas
A estudante Beatriz Trevisan Romera, de 18 anos, afirma que não conseguiu segurar o choro quando Aleksander Laks começou seu relato. "Ele começou a contar sobre a separação com a mãe, comecei a chorar", afirma. Laks foi separado da mãe aos 12 anos, ao chegar no campo de concentração de Auschwitz. Segundo o sobrevivente, ele não teve nem tempo de se despedir de quem mais admirava. "É impossível não traçar algum paralelo, não pensar nos nossos próprios pais", diz Beatriz.
"O relato é muito forte, tão impactante. Falado assim, com tantos detalhes, pega muito mais na ferida. São coisas que nós nunca escutaríamos em uma aula", diz a jovem Beatriz, que se interessa pela disciplina de história. O pai de Aleksander Laks sobreviveu com o jovem no campo, mas acabou assassinado em um dos blocos do campo de concentração denominado "latrina". Segundo Carla Rodrigues, de 17 anos, esse relato foi o mais tocante. "Fiquei muito emocionada.
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