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sexta-feira, 22 de maio de 2015

A importância de valorizar os diferentes marcadores para enfrentar a violência sexista

21/05/2015


(Luciana Araújo/Agência Patrícia Galvão, 21/05/2015) O debate no primeiro painel do Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres teve como principal marca o destaque às especificidades raciais e étnicas no enfrentamento às agressões a direitos da população feminina. Moderada pela médica e pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo Ana Flávia D’Oliveira, a sessão realizada na tarde desta quarta-feira (20) debateu perspectivas propositivas para uma cultura de não-violência contra as mulheres.
Racismo e sexismo: elementos fundantes da sociedade brasileira, lembra ex-ministra
A ex-ministra da Igualdade Racial Luiza Bairros ressaltou que o problema do conceito “cultura da violência” é que a cultura também é socialmente construída. “Não é a violência que cria a cultura, mas esta que define a violência e aceita em maior ou menor grau as práticas violentas”. Luiza foi ovacionada pela platéia ao resgatar o vínculo profundo entre a violência sexista e o racismo estruturante do desenvolvimento capitalista nacional.
“No caso brasileiro temos uma sociedade onde a violência é fundante. Está no nosso DNA. A mesma força violadora dos homens em relação à natureza, que explorava de qualquer forma os recursos naturais, estuprava mulheres indígenas, negras, brancas, e torturava, muitas vezes até à morte, africanos escravizados. E hoje, mesmo considerando tudo o que já mudou em relação ao que consideramos violência, não há como discutir esse tema sem discutir racismo e sexismo. Se não retornarmos a essa discussão das bases ideológicas que nos trouxeram ao momento atual vamos reproduzir o senso comum despolitizado que vigora na sociedade brasileira hoje, de que a sociedade é violenta e precisa de mais polícia, redução da maioridade penal e fazer com que as mulheres ‘se comportem’ para não serem estupradas, o que é um retrocesso”, frisou.
A vinculação entre racismo e estereótipos de masculinidade e feminilidade presentes na sociedade brasileira foi defendida por Luiza como essencial para uma compreensão totalizante do problema social da violência e para a busca de soluções efetivas. “A condição racial vivida por um homem branco ou negro, mulheres brancas, negras e de outras etnias nem sempre aparece na integralidade à primeira vista. Muitas vezes a condição racial é vivida por meio da opressão de gênero”.
Rita Segato alertou para a dominação dos corpos das mulheres como um objetivo estratégico de guerra, uma mudança de qualidade no desenvolvimento das disputas econômicas. E defendeu que o Estado precisa restaurar um tecido comunitário, no sentido construído pelos povos originários, para preservar os direitos e a vida das mulheres.
Para a especialista, na América Latina, a colonização se reflete na reprodução de práticas colonizadoras pelos homens no ambiente familiar, inclusive em nações indígenas.
A procuradora e consultora da OEA, Flávia Piovesan ressaltou a importância de considerar as especificidades dos segmentos atingidos pela violência e lembrou que “as políticas universalistas são absolutamente estáveis no sentido de perpetuar as desigualdades étnico-raciais em nosso país”.
Álcool e violência sexista: o debate feminista e a agenda de políticas públicas
Questionada por ter levantado durante sua palestra a associação entre uso de álcool e violência doméstica, a pesquisadora Lori Heise reiterou o posicionamento sob a perspectiva da teoria do modelo ecológico de percepção das origens da violência de gênero. Lori é professora titular da London School of Hygiene and Tropical Medicine.
“Como feminista penso que não temos ouvido o que as mulheres têm a dizer. Não se trata de desculpar esse comportamento, mas reconhecer o papel do álcool no agravamento da violência. Isso não quer dizer que o álcool cause violência, mas temos que considerar essa questão para manter essas mulheres em segurança. Se houver normas para os homens e controle da disponibilidade de bebidas nas comunidades, há estudos que comprovam que a violência doméstica pode ser reduzida. Isso não vai eliminar a violência das nossas vidas, mas pode minimizar a gravidade dessa dessa questão”, afirmou.
A perspectiva defendida por Lori aponta para o desafio do movimento feminista e organizações de defesa dos direitos das mulheres questionarem o papel da indústria de bebidas na promoção ou eliminação da violência de gênero para além dos estereótipos sexistas e objetificadores comumente usados por esse ramo econômico na publicidade de seus produtos.

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