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sexta-feira, 22 de maio de 2015

O DESAFIO DE SER MULHER E FAZER POLÍTICA NA ÁFRICA



10/05/2015 - POR AGÊNCIA EFE

HUMILHAÇÕES, DESPREZOS DOS COLEGAS E DIFICULDADES PARA CONSEGUIR FINANCIAMENTO. MESMO COM AS DIFICULDADES, MULHERES VÃO CRESCENDO NOS PARLAMENTOS DOS PAÍSES DA ÁFRICA
Nadifa Mohammed Osman, a engenheira que representa a Somália (Foto: Reprodução Instagram)

As africanas que desejam mudar seus países pela via política têm algo em comum: não se rendem diante das dificuldades que enfrentam diariamente e seu progresso se transformou em um exemplo para todas as mulheres que lutam pela igualdade de gênero em um espaço historicamente dominado por homens.
Muitos países africanos estão acima da média global dos 22% de representação feminina nos parlamentos, segundo os dados do Banco Mundial. Ruanda, com 64% é o país com o maior número de deputadas de todo o mundo, 
Apesar das estatísticas, ser mulher e política na África não é fácil, é preciso ser valente para embarcar nesse desafio e conseguir se fazer ouvir. Nadifa Mohammed Osman, engenheira, entrou em 2012 no parlamento da Somália - onde só 14% das cadeiras são ocupadas por mulheres - porque queria mudar seu país e provar que as mulheres podem ter lugar na política. Somente dois anos depois se tornou ministra de Obras Públicas e Reconstrução. 
"Era a única mulher com um alto perfil no Ministério. As mulheres eram apenas faxineiras, todo os demais homens. Não foi fácil trabalhar com essa situação", contou à Agência Efe.
Durante o ano em que ocupou o cargo, ela sofreu o desprezo de muitos de seus colegas, mas, apesar disso, continuou lutando por seus valores e tentou recrutar várias engenheiras para o Ministério. "Muitos achavam que não estava preparada para o posto, que uma mulher não podia liderar um ministério, nem dizer a eles o que tinham de fazer. Isto dificultou enormemente o trabalho", explicou.
Fora de seu gabinete, como parlamentar, Osman mantém sua batalha para equilibrar uma sociedade que encurrala as mulheres fora das esferas de decisões importantes. O primeiro passo, opinou, é criar uma lei de paridade que garanta a presença feminina no parlamento, "porque não há nenhuma norma que regule o processo de seleção dentro dos partidos, é o clã que se encarrega disso".
Em Serra Leoa as mulheres não têm facilidades para impulsionar sua liderança. Hon Veronica Sesay, que tem 54 anos e está há dez na política, reconheceu que o caminho esteve infestado de dificuldades. "Se não houver mulheres na representatividade elas se tornam seres mais vulneráveis. Se ficarem sem uma voz que exponha suas reivindicações e sem ninguém que escute suas demandas", alertou.
Um dos grandes obstáculos que as mulheres enfrentam na hora de avançar em sua carreira política é a falta de financiamento. "Por razões de tradição, o financiamento é muito complicado. Os homens contam com muito mais recursos, o que torna ainda mais difícil concorrer contra eles", lamentou Sesay.
Em outros países do continente a situação melhorou nos últimos anos, como na Etiópia, onde as mulheres passaram de um irrelevante 2,3% das cadeiras em 1995 para os atuais 33%. "Não me senti discriminada na hora de entrar na política", afirmou Chernet Haile Mariam, que há cinco anos é deputada no parlamento etíope.
Em outros países ainda há muito mais a fazer, como por exemplo na Costa do Marfim e em Botsuana, onde só 9% de suas parlamentares são mulheres.
Estas histórias, tão diversas como a África, são apenas um pequeno exemplo da luta contínua feminina. Osman, Sesay e Mariam participaram da última edição do Fórum Global de Mulheres Parlamentares (WIP) realizado em Adis-Abeba, onde trocaram suas experiências com mais de 400 colegas.
Seus sucessos, derrotas e desafios são agora fonte de inspiração para parlamentares de todo o mundo, que tentam fazer com que a igualdade na política deixe de ser uma utopia.

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