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sábado, 23 de maio de 2015

Vingança feminina na continuação do clássico "Mad Max"

Agora, as mulheres são protagonistas e vão à forra
                            
NINA FINCO
22/05/2015
                      

Cena do filme Mad Max, com a Imperatriz Furiosa e Max  Rockatansky  (Foto: Divulgação)
MULHER NO COMANDO
Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) e Max  Rockatansky  (Tom Hardy) em guerra contra um exército de fanáticos.
Ela rouba a cena (Foto: Divulgação)
 
 
Em 1979, chegou aos cinemas uma história pós-apocalíptica com carros velozes, gangues psicodélicas, guerra pelo petróleo e um herói de poucas palavras. Na ocasião, o filme australiano Mad Max, dirigido por George Miller, não foi bem recebido pela crítica. Contra todos os prognósticos, tornou-se um sucesso de bilheteria. Mais que isso: é um dos filmes mais rentáveis de todos os tempos. Com um orçamento de menos de US$ 500 mil,  arrecadou cerca de US$ 100 milhões em todo o mundo. Lançou Mel Gibson ao estrelato e virou um clássico cult. Mais de três décadas depois, Mad Max (agora interpretado por Tom Hardy) volta à telas de cinema pelas mãos do mesmo diretor. Ele chega revigorado e acompanhado. Em Mad Max: estrada da fúria, que estreou na última quinta-feira, dia 14, o personagem Max Rockatansky está em pé de igualdade com outra heroína: a  Imperatriz Furiosa, vivida por Charlize Theron. Ela rouba a cena e o protagonismo. O filme de perseguição automobilística que originalmente vertia testosterona deu lugar a uma história de ação em que a personagem feminina está longe de ser frágil. Ela chutará quantos traseiros forem necessários para chegar aonde precisa.

Miller passou 12 anos planejando um novo filme para a franquia Mad Max. Caso se aposentasse hoje, aos 70 anos, Miller poderia fazê-lo com a consciência limpa de um diretor que deu um toque de mestre a sua obra-prima. Nos 120 minutos de duração, perseguições de carros turbinados, mortes, explosões e tempestades de areia se sucedem em cenas alucinantes. Até o mais insensível dos espectadores vai querer apertar cintos imaginários na cadeira do cinema.

A história original estreou em meio à crise do petróleo dos anos 1970. A trama refletia isso com personagens punks numa busca desvairada por gasolina num mundo arrasado. É aí que surge o policial Max, cuja família foi assassinada e para quem vingança e sobrevivência tornam-se sinônimos. Quem chega aos cinemas para ver Estrada da fúria sem ter assistido aos três primeiros filmes da série não precisará saber de nada disso. Miller apagou as razões pelas quais Max está à deriva num mundo sem lei. Ele o coloca como um personagem assombrado pelo passado, que tenta continuar a viver numa cidade desértica pós-apocalíptica tiranizada por Immortan Joe (interpretado por Hugh Keays-Byrne, que deu vida ao primeiro vilão da saga, Toecutter). Lá, a população moribunda vive em meio ao pó e as mulheres férteis e bonitas são escravizadas para prover leite ou filhos para um exército de fanáticos.

Max é capturado por esse exército e vê em uma perseguição de carros pouco ortodoxa uma chance de escapar. Imperatriz Furiosa, mecânica e motorista de um caminhão de guerra, rouba cinco parideiras. Elas são os bens mais preciosos de Immortan Joe, que envia um batalhão de soldados numa caçada mortal. Max é levado pelos soldados nessa perseguição. É desse caos criado por Furiosa que vem a loucura do filme, e não de Max. Furiosa é movida por vingança. Ela foi roubada quando criança, mas, por ser estéril, foi descartada por Immortan Joe. Ela fica ainda mais amarga depois de perder um dos braços. Para sobreviver, apaga o que restava de sua feminilidade raspando o cabelo – e passa a viver de sua habilidade com máquinas.

No exterior, a crítica aplaudiu o esforço de Miller. Grande parte do êxito de Estrada da fúria está nas perseguições acrobáticas e na troca de tiros. Tudo isso em alta velocidade. “Com medo e entusiasmo vertiginoso, esse filme é a colisão incontrolável de Ben-Hur e o desenho animado do Papa-Léguas”, disse Eric Kohn, crítico da revista IndieWire. A adição da força feminina à trama foi cercada de cuidados. Para certificar-se de que esta não seria mais uma história sobre mulheres como vítimas indefesas e sim de sobreviventes com força, Miller pediu  ajuda a Eve Ensler, ativista, feminista e autora da peça Monólogos da vagina. O diretor a convidou para passar uma semana nos sets no deserto africano de Namib para dar às atrizes uma perspectiva sobre a violência contra as mulheres em todo o mundo. “Uma a cada três mulheres no mundo será estuprada ou agredida ao longo da vida – é um tema central de nosso tempo, e a violência contra mulheres tem a ver com injustiça econômica e racial. Esse filme encara esses assuntos”, disse Eve em entrevista à revista Time. As conversas com Eve ajudaram a criar personagens com narrativas por trás delas, deixando transparecer nas telas parte da dor das vítimas de estupro no Congo ou do tráfico sexual na América. “Queria mostrar a história da vingança de uma mulher, sua dor e seu sentimento de inferioridade naquela sociedade”, afirma Charlize Theron.

Ao deixar para trás personagens femininas fracas, como a mulher de Max no primeiro filme, e introduzir uma nova geração de heroínas, Miller conseguiu tirar o pó da trilogia original e entregou uma história em sintonia com os tempos atuais. Se alguma coisa mudou – para melhor – nos últimos 30 anos, foi o fato de que as mulheres ganharam mais poder.
 

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