Por Jarid Arraes
Seja como heroínas em filmes de ação ou como chefes em uma grande empresa, mulheres em posição de liderança são ofendidas e repudiadas por muita gente, especialmente por homens que enxergam nessas mulheres verdadeiras ameaças. Em inglês, há até mesmo o termo “ball-buster“; direcionado a mulheres consideradas dominantes, a expressão sugere que a liderança e assertividade femininas são encaradas como uma espécie de violência contra os homens.
As configurações patriarcais de diversas sociedades ao redor do mundo, incluindo a nossa, são de extrema relevância para entender essa interpretação . A figura do patriarca, homem chefe de família e de negócios, e o reconhecimento de sua autoridade existem até hoje. A ideia de que os homens são naturalmente líderes e governantes não ficou enterrada nos anos 40; pelo contrário, muitos machistas têm a sensação de intimidação e revolta quando se deparam com uma liderança feminina – uma realidade ainda pior quando essa mulher é responsável por liderá-los.
Não por acaso, mulheres assertivas e eficientes na posição de liderar acabam sendo ofendidas com incontáveis xingamentos misóginos e, em muitos casos, também acabam sendo ameaçadas com a alegoria da feminilidade. Na visão machista, a mulher que não se comporta de maneira doce, meiga, materna e submissa está tentando “se tornar um homem” ou copiando supostos comportamentos masculinos – algo que não passa de uma estratégia para fazer recuar a autonomia feminina, em um esforço constante para “colocar as mulheres em seus lugares”, como se a ocupação de outros espaços fosse uma afronta contra a sociedade.
Não é difícil rebater esse tipo de ataque contra a autonomia das mulheres. Não existe “natureza feminina” ou “natureza masculina”, pois todos os papéis de gênero nos são ensinados sistematicamente desde o nascimento. E mesmo com essa doutrinação de gênero, mulheres ainda se tornam pessoas fortes, independentes, capazes de calcular, inventar, descobrir e desbravar. Todo o esforço machista para reduzir as mulheres a uma posição de subserviência jamais foi suficiente; as mulheres, ao longo da história, provam dia após dia que esses papéis não lhes definem, limitam ou cabem.
Imagine a revolta de um machista ao se deparar com uma líder segura de seu papel – e não um rascunho de mulher que pede desculpas por existir. Homens machistas não suportam ter uma mulher como chefe, nem toleram a ideia de que uma mulher seja melhor do que eles em algo que consideram tipicamente masculino. O machista logo acusará a mulher de possuir alguma inveja ou rancor contra os homens, como se seu maior objetivo fosse oprimi-los. Tudo isso quando, na verdade, o que faz o machista se sentir oprimido é o fato de não estar no domínio.
Por isso, é de fundamental importância que confrontemos esse tipo de reação misógina e provoquemos, cada vez mais, esse desconforto contra o machismo. Uma mulher na liderança é de um didatismo profundo e ensina valores que combatem o ódio contra mulheres e os estereótipos de gênero. A autonomia feminina ainda precisa ser conquistada e defendida pelas mulheres; somente com assertividade e segurança poderemos garantir o avanço contínuo até que a equidade seja uma realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário