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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Quem realmente gosta de mulher não pode ser contra o movimento por igualdade

IVAN MARTINS
20/05/2015

Convenhamos: feminismo entre nós é uma palavra associada a senhoras mal-humoradas que não cuidam das unhas. Não parece coisa de mulher bonita e muito menos de homens. No entanto, é. Algumas das mulheres mais atraentes que eu conheço são feministas. Assim como os caras que eu respeito. Parece ser um atributo de cultura e modernidade. Gente legal e instruída tende a ver o mundo como um lugar onde as mulheres ainda são discriminadas. Outro tipo de gente acha que o mundo está bem como está, com as mulheres ganhando menos que os homens, fazendo todo o trabalho de casa e, vira e mexe, sendo espancadas ou mortas porque resolveram abandonar um desequilibrado. Qual é a sua turma?

A minha eu defini faz tempo: gosto de mulher. Gosto de conversar com elas, de namorá-las e de trabalhar com elas. Aprecio a influência feminina na minha vida pessoal, na vida do meu país e da empresa em que eu trabalho. Acredito em igualdade, aplaudo a liberdade sexual e afetiva das mulheres, apoio sem restrições a briga delas para serem respeitadas nas ruas, nas baladas e no trabalho. Acho que o mundo será melhor quando poder e dinheiro forem repartidos de forma mais igualitária entre homens e mulheres. Sinto, fundamentalmente, que a melhoria da vida das mulheres é do meu interesse como homem. Ela me liberta da função de macho provedor e protetor que a esta altura da existência se tornou opressiva.

Essas opiniões e sentimentos fazem de mim um feminista? Naturalmente, mas nem vejo como poderia ser diferente. Desde criança, vivo cercado por mulheres inteligentes e interessantes. Muitas delas lindas. Nunca me passou pela cabeça que eu pudesse ser de alguma forma superior a elas. Diferente, sim; mas não melhor. Elas sempre foram tão bem quanto eu na escola, tenho visto como são bem-sucedidas no trabalho e, na intimidade, não canso de admirar os malabarismos que fazem para equilibrar funções de mãe, mulher e profissional. É um show de competência que poucos homens são capazes de reproduzir. Essas evidências sugerem para mim que o contrário do feminismo hoje em dia é machismo puro e simples - algo tão injustificável quanto racismo ou homofobia. Incompatível com o tempo em que vivemos.

Cem anos atrás, quando as mulheres começaram a se tornar independentes, surgiu entre os homens o medo de que seria impossível se relacionar com elas. Temia-se que ficassem masculinizadas. Era bobagem. As mulheres de hoje são fisicamente mais bonitas e intelectualmente mais interessantes que as avós delas. Têm mais repertório, exibem mais personalidade, fazem estripulias notáveis na cama - porque gostam, não porque se espera delas. Conviver com essas mulheres em pé de igualdade dá trabalho, mas é uma delícia. O sujeito que enxerga nas mulheres apenas pedaços obedientes de carne perde isso tudo. Limita-se a desfilar com dondocas de bunda dura que ainda não baixaram o aplicativo feminista do século XXI. As lerdas, na minha modesta opinião.

Recentemente, temos ouvido falar sobre estupros nas universidades. Eles sempre aconteceram, mas só viraram notícia porque grupos feministas nas escolas estão pressionando as autoridades a agir contra os estupradores. Antes, eles levavam uma bronca e não acontecia mais nada - afinal, eram meninos de boas famílias. Agora, esses criminosos correm o risco de terminar onde devem, na cadeia. Graças às meninas militantes. Isso é feminismo. Jura que você é contra?

(Este texto foi publicado originalmente na revista GQ. É reproduzido aqui em homenagem às garotas de Encantado, no Rio Grande do Sul, que lutam sem apoio da polícia e da imprensa local contra a divulgação criminosa das suas imagens na internet, que já provocou a tentativa de suicídio de uma adolescente. Essa é uma luta que pertence a todas as mulheres e homens de bem).


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