Brasileira na Austrália virou empresária em casa para conciliar tarefas domésticas
Fernanda Nidecker
Da BBC Brasil em Londres
Morar na Austrália, país onde o trabalho doméstico é praticamente inexistente, despertou na brasileira Giselle Firme, de 39 anos, seu espírito empreendedor.
Longe da família e sem empregada doméstica, a consultora em política ambiental viu na abertura de seu próprio negócio a forma ideal de conciliar suas ambições profissionais com a maternidade e as tarefas de casa.
Até o nascimento do filho Noah, de quatro anos, Giselle trabalhava em uma ONG ambiental em Sydney, mas decidiu sair do emprego para cuidar do filho.
A carioca conta que, na época em que o menino nasceu, a lei australiana (hoje alterada) não estabelecia regras para licença maternidade. Ela não receberia qualquer benefício de seu empregador, apenas a garantia de ter o emprego de volta após um ano.
A proposta pareceu atraente inicialmente, mas Giselle logo percebeu que seria complicado voltar a trabalhar em tempo integral. Foi quando decidiu dar uma guinada na vida profissional.
"Fiz um mestrado em direito ambiental e logo depois surgiu a ideia de abrir a consultoria", conta a carioca.
Disciplina
Hoje Giselle trabalha de casa duas vezes por semana e o restante junto com os clientes, que incluem uma candidata ao Senado australiano pelo Partido Verde.
Ser dona do próprio negócio possibilita que ela administre seu tempo de acordo com as necessidades do filho e da casa. Nos dois dias em que trabalha do escritório que montou nos fundos da casa, com vista para o jardim, ela reserva um tempo para arrumar os quartos, colocar roupas para lavar e fazer compras.
Nesses dias, o filho Noah passa menos tempo na creche, podendo desfrutar da companhia da mãe.
A limpeza mais pesada fica por conta da faxineira, que vem três horas por semana a um custo de 80 dólares australianos (cerca de R$ 167).
Mas nem sempre é fácil. Giselle diz que é preciso disciplina e boa dose de concentração para que as distrações da casa não interfiram no trabalho, e que muitas vezes passa horas no computador depois que Noah vai para cama.
"Meu marido já precisou viajar no final de semana com nosso filho para que eu pudesse terminar um projeto", relembra.
A consultora também conta com a ajuda do marido Daniel nas tarefas domésticas. Ele cozinha, cuida das roupas, e fica responsável pelo jardim, já que a família não emprega jardineiro.
"Dividir (o trabalho doméstico) com meu marido é essencial", diz ela. "Ele cuida do jardim e de uma horta em que cultivamos ervas, tomates, couve-flor, brócolis e milho", diz ela, acrescentando que a jardinagem virou diversão para o filho, que já está aprendendo a mexer na terra.
Mão na massa
Transformar as tarefas domésticas em uma espécie de brincadeira foi uma tática que Giselle criou para cuidar da casa e entreter o menino ao mesmo tempo.
Ela diz que Noah é "seu assistente" na cozinha e já ajuda na preparação de alguns pratos, como pizza.
A carioca diz não sentir falta de empregada doméstica porque nunca foi acostumada com uma enquanto morou no Brasil. Sua mãe era arquiteta, mas virou dona de casa depois que teve três filhos.
Ela lamenta, no entanto, não ter a família por perto para ajudar a cuidar do filho. Para isso, ela conta com uma pequena rede de amigos e vizinhos que se auxiliam mutuamente em casos de doença, por exemplo.
Quando quer sair com o marido, contrata uma babá conhecida da família, que custa 20 dólares por hora (R$ 41).
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Austrália é um dos países com menor índice de emprego doméstico do mundo. No total, são apenas 3,8 mil trabalhadores, que representam menos de 0,1% da população empregada.
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