15 abril 2015
Campanhas nos EUA e no Canadá pedem que imagens de mulheres sejam estampadas em notas de dinheiro, e uma petição parecida no Reino Unido convenceu o Banco da Inglaterra a ilustrar a nota de 10 libras com o rosto da escritora Jane Austen a partir de 2017.
Diversos países já passaram por debates semelhantes. Afinal, quantas notas seriam necessárias para retratar as mulheres de forma igualitária?
Notas de dólares americanos retratam os fundadores dos EUA e ex-presidentes. O dinheiro chinês é ilustrado por Mao Tsé-Tung, e o indiano, por Mahatma Gandhi. Nenhuma nota desses países é estampada por mulheres. Muitos outros países também dão preferências a homenagens masculinas, apesar de incluírem uma ou duas mulheres nas notas.
"Os EUA precisam mostrar ao mundo que nós também reconhecemos o valor e a contribuição das mulheres", diz Susan Ades Stone, diretora-executiva da campanha Women On 20s, que pede um rosto feminino na nota de US$ 20.
"Nosso dinheiro diz algo a respeito de nós e do que representamos como sociedade. Se queremos igualdade de gênero, diversidade e inclusão, temos que ir adiante."
Enquete online da campanha perguntou a internautas quais mulheres eles mais gostariam de ver na nota - entre candidatas como a ativista pelos direitos civis Rosa Parks e a pioneira na defesa do controle da natalidade, Margaret Sanger. Uma segunda rodada de votação está em curso.
A escolhida será apresentada ao presidente Barack Obama em uma petição pedindo a substituição do rosto do ex-presidente Andrew Jackson, que estampa a nota de US$ 20 atualmente. Jackson é especialmente impopular entre os nativos americanos, por ter assinado uma lei, em 1830, que forçou a retirada de índios de suas terras e levou à morte de milhares deles em uma jornada rumo ao oeste dos EUA.
Enquanto isso, no Canadá, mais de 54 mil pessoas participam de um abaixo-assinado por um rosto feminino nos dólares canadenses, depois de a única mulher a lograr tal feito - a política feminista Thérèse Casgrain - ter sido substituída, em 2011, por um navio quebra-gelo.
"Quando abrimos nossa carteira e vemos os rostos de quatro homens primeiros-ministros e da rainha Elizabeth 2ª (chefe de Estado dos países da Commonwealth), a mensagem subliminar é que as mulheres canadenses não são boas o bastante para serem celebradas", diz Merna Forster, criadora da campanha canadense.
Assim como no Canadá, notas da libra esterlina britânica são ilustradas pela rainha. Mas críticos dizem que isso não conta como presença feminina, por ela ser retratada como monarca, e não por suas conquistas. Além disso, eventualmente ela será substituída por um herdeiro homem.
Números iguais e diversidade
A questão também já foi levantada na Suécia.
"Achamos que seria muito importante mostrar um número igual de homens e mulheres (nas notas)", diz Susanne Eberstein, presidente do conselho-geral do Banco Central sueco. "Foi algo muito natural."
As mulheres aparecem atualmente em três notas, ainda que uma delas seja a figura da "Mãe Suécia". Novas notas, a serem lançadas até 2016, terão três mulheres e três homens - a atriz Greta Garbo, a escritora Astrid Lindgren e a cantora lírica Birgit Nilsson.
A Austrália é outro país que buscou a igualdade de gênero em suas notas de dinheiro: cada uma delas tem um homem de um lado e uma mulher do outro, além da nota que tem a rainha de um lado e os edifícios do Parlamento do outro.
O grupo americano Women On 20s também defende essa igualdade numérica, mas diz que sua campanha por enquanto foca apenas na nota de US$ 20 para ser realista.
"Esperamos que seja apenas o começo", diz Susan Ades Stone.
E será que o dinheiro de um país não deveria representar também sua diversidade racial?
Poucos países encamparam a ideia, mas a Austrália é, de novo, uma exceção: uma das notas do país é ilustrada por um líder e inventor aborígene.
Nos EUA, todas as notas são estampadas por políticos brancos, embora o Censo liste sete etnias diferentes no país.
Stone concorda que as notas de dólar devam refletir essa diversidade. Mas agrega que "seria irrealista imaginar que conseguiremos uma representante mulher de todos os grupos étnicos nas notas. Isso é pra uma futura campanha".
Nada de pessoas
Isso ilustra as dificuldades de representar a totalidade das nuances de uma população no seu dinheiro. As notas de euro - moeda comum de países com diferenças entre seus povos, sua história e sua cultura - são ilustradas por imagens estilizadas de janelas, arcos e pontes. Nada de pessoas.
No Brasil, o real estampa animais típicos e a efígie da República (uma "personificação da nação brasileira representada por uma mulher").
Serão essas as melhores soluções?
A Noruega, que tem mulheres em duas de suas cinco notas de dinheiro, vai adotar essa estratégia. Em vez de pessoas, as notas futuras terão uma temática marítima, cujos desenhos ainda não foram finalizados.
Mas, segundo Hilde Singsaas, do Banco Central norueguês, isso não se deve a nenhuma dificuldade em refletir a diversidade populacional do país. "As notas prévias tinham retratos como motivo primário, sem nenhuma conexão clara entre eles; agora, a meta era encontrar um tema recorrente que unisse as notas de forma coerente."
Na mesma linha, a Dinamarca apresentou recentemente novas notas ilustradas por pontes e objetos pré-históricos, em vez de pessoas. Duas de suas notas prévias tinham apenas mulheres; outra tinha um homem ao lado de uma mulher. O Banco Central do país explica, em seu site, que as pontes simbolizam os elos entre as várias partes do país e entre passado e presente.
Mas pode ser que seja, também, uma alternativa mais diplomática: é mais fácil escolher paisagens a figuras históricas, muitas vezes controversas.
Qualquer pessoa que seja colocada em uma nota será elogiada por uns e criticada por outros, diz Eberstein, da Suécia. Uma das polêmicas do país nórdico é a nota com a cantora Birgit Nilsson, retratada cantando uma ópera de Richard Wagner, cujo trabalho é às vezes associado ao nazismo.
Eberstein explica que Nilsson comumente interpretava obras de Wagner, populares até hoje.
"Ela era uma cantora famosa e uma boa representante da Suécia na época", prossegue Eberstein.
"Você nunca consegue agradar todo mundo", admite Stone, do grupo Women On 20s.
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