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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Após 100 plásticas, iraquiana disfarça queimaduras no rosto com tatuagem

Aos dois anos, Basma Hameed sofreu queimaduras de 3° grau em 40% da face. Ela transformou sua própria experiência em negócio: abriu clínicas no Canadá e EUA, onde usa a micropigmentação para camuflar cicatrizes graves

NATHALIA TAVOLIERI

Basma antes e depois da "camuflagem" de cicatrizes. Ela desenvolveu uma pigmentação bastante próxima da natural. Hoje, oferece o tratamento em suas clínicas no Canadá e Estados Unidos (Foto: Arquivo pessoal)
Basma antes e depois da "camuflagem" de cicatrizes. Ela desenvolveu
uma pigmentação bastante próxima da natural. Hoje, oferece o tratamento em
suas clínicas no Canadá e Estados Unidos (Foto: Arquivo pessoal)
A iraquiana Basma Hameed, de 27 anos, sempre preferiu o lado direito do rosto. Não pelo ângulo do nariz ou por uma mancha na bochecha. Mas pela marca de uma brincadeira que não acabou bem. Aos dois anos, ela e o irmão, na época com seis, decidiram preparar na cozinha da casa onde moravam, em Bagdá, capital do Iraque, uma surpresa para os pais. No meio do procedimento, seu irmão derrubou, sem querer, a panela com óleo fervente sobre o lado esquerdo de seu rosto. Basma teve 40% da face queimada. Em terceiro grau. Ela não se lembra da dor que sentiu no momento do acidente. Mas as consequências a acompanharam pelo resto da vida.
Durante a infância e a adolescência, Basma passou por mais de 100 cirurgias plásticas – a maior parte feita no Canadá, para onde mudou com a família aos nove anos. Logo nas primeiras, os médicos conseguiram fazê-la voltar a abrir o olho esquerdo. A cada novo procedimento, uma reparação discreta. As cirurgias tornaram a superfície de sua pele um pouco mais homogênea e reduziram o contraste das diferentes tonalidades de seu rosto. Por meio de implante, ela ganhou cabelo na parte da cabeça que ficara careca e pelos sobre o olho esquerdo, no lugar da sobrancelha. Mas nem tantos procedimentos estético-cirúrgicos, nem as bases e corretivos usados diariamente, evitavam os olhares curiosos, que a viam sempre com pena. E à distância. Basma ainda era visivelmente deformada.
Após o acidente, quando tinha dois anos, Basma teve 40% de seu rosto queimado (Foto: Arquivo Pessoal)
Após o acidente, quando tinha dois anos, Basma teve 40%
de seu rosto queimado (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 16 anos, os recursos cirúrgicos se esgotaram. “Os médicos disseram que não podiam fazer mais nada por mim”, diz Basma. Ela não desanimou. Foi, aos poucos, atrás de alternativas para atenuar a assimetria entre os lados do rosto. Uma delas foi a maquiagem definitiva (técnica semelhante à da tatuagem, de tinta sob a pele) para deixar as sobrancelhas mais parecidas e bonitas. O resultado foi surpreendente. E a fez pensar: “Se deu certo na sobrancelha, por que não daria no resto do rosto?”
Basma logo após as primeiras intervenções cirúrgicas. Ao logo da vida, ela passou por mais de cem (Foto: Arquivo Pessoal)
Com uma máquina própria para fazer tatuagens e frascos de pigmentação para pele, ela foi brincando com os tons até encontrar o que mais se aproximasse do bege claro que coloria o outro lado do rosto. Sozinha, sentada em frente ao espelho, começou a fazer aplicações nas áreas danificadas. Sabia que a textura da pele não mudaria, mas acreditava que, por meio desse tipo de tatuagem, poderia amenizar as discrepâncias de cor. “Foi arriscado, mas não tive medo. Já havia passado por tanta coisa que, àquela altura, sentia que não tinha nada a perder.”
Quando criança, Basma sofreu um acidente enquanto brincava na cozinha de casa. Sem querer, seu irmão derrubou óleo fervente sobre seu rosto (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando se deu conta dos resultados positivos das primeiras aplicações, matriculou-se em cursos para dominar as técnicas de tatuagem artística e micropigmentação paramédica. Concentrou-se em estudos de coloração e desenvolveu uma pigmentação bastante natural. O que aprendia na teoria era testado por ela no próprio rosto. Por um ano, fez novas aplicações. O resultado pode ser visto nas fotos acima.
Hoje, aos 27 anos, Basma gosta dos dois lados de seu rosto  (Foto: Reprodução)
A micropigmentação paramédica como tratamento para colorir áreas despigmentadas, como manchas e aréolas pós-cirurgias da mama, por exemplo, não é novidade. Mas no caso de cicatrizes mais graves, pela dificuldade de se encontrar pigmentações próximas aos tons naturais da pele, a técnica é pouco difundida. “Ao longo dos anos, desenvolvi minhas próprias pigmentações. Sei como a pele danificada reage a diferentes tipos de cores, e também sei qual é o limite das intervenções, o que a pele pode aguentar.”
Em 2007, Basma abriu sua primeira clínica em North York, no Canadá, para oferecer o tratamento. A procura foi tão grande que inaugurou outra em Chicago, nos Estados Unidos, e pretende abrir mais duas até o final do ano que vem na América do Norte. Além da “camuflagem de cicatrizes”, as clínicas, que levam seu nome, oferecem tratamentos como maquiagem definitiva e implantes de cabelo. Basma também faz treinamentos de capacitação para outros profissionais. Há pessoas que saem de outros países só para fazer o curso com ela. “Quero que um dia minha técnica esteja disponível em todo os continentes.”
Basma Hameed oferece treinamentos de capacitação para profissionais que queiram aprender sua técnica (Foto: Arquivo Pessoal)
Na prática, o procedimento de Basma é o acabamento após as plásticas e outros métodos convencionais, um retoque final. Depois de todos as intervenções médicos, que incluem as cirurgias e tratamentos dermatológicos, os médicos encaminham seus pacientes a ela. “Muitas vezes não há mais como reduzir as cicatrizes, como foi meu caso. Mas por meio de cores dá pra deixá-las com um aspecto mais natural”, afirma Basma.
Ela diz que muitos de seus pacientes a procuraram em depressão. “Eles não saíam de casa, não trabalhavam fora, não gostavam de se relacionar. Tudo por causa das cicatrizes.” Basma diz que por conhecerem sua história, e saberem que ela é uma prova viva da eficácia de seu procedimento, eles confiam nela. “Como passamos por experiências parecidas, nos identificamos. Conversamos antes das sessões, às vezes choramos juntos”, ela diz. “É quase como uma terapia.”
Basma se diz agradecida pelo acidente na infância. “Tudo o que aconteceu comigo fez com que eu pudesse me superar e, a partir dessa experiência, ajudar pessoas com histórias parecidas com a minha”. Hoje, Basma gosta dos dois lados de seu rosto.

Após o tratamento, a diferença de tonalidade dos dois lados foi atenuada (Foto: Reprodução / YouTube)
Após o tratamento, a diferença de tonalidade dos dois lados foi atenuada
(Foto: Reprodução / YouTube)
Basma Hameed transformou sua experiência em negócio. Ela trabalha em duas clínicas, que levam seu nome, no Canadá e EUA (Foto: Arquivo Pessoal)
Basma Hameed transformou sua experiência em negócio.
Ela trabalha em duas clínicas, que levam seu nome, no Canadá e EUA
(Foto: Arquivo Pessoal)
http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/08/apos-mais-de-100-plasticas-iraquiana-disfarca-bqueimadurasb-no-rosto-com-btatuagemb.html

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