Para ser verdade, não basta acontecer, tem que ser postado!
POR MÔNICA EL BAYEH
Era para ser só mais um café da manhã de domingo. Só que não. Tinha começado esquisito. Na cozinha, a mulher chorosa olhava a tela do Facebook. Facebook é jornal de fofoca. De tudo se sabe. Ele não tinha aprontado nada. A consciência estava tranquila. Se apressou em saber o que tinha acontecido, preocupado com a tristeza dela.
- O que houve? Morreu alguém?
Na mulher lágrimas escorriam sem sentido e sem rumo. Ela, desconsolada, apontou para a tela.
- Olha como eles se amam!
Na página aberta, a foto de uma mulher desconhecida. Logo abaixo, uma longa declaração: você é a mulher da minha vida. Ele não achava que isso fosse grande garantia de amor. Para ele, parecia mais anúncio de margarina. Não via valor nesse tipo de postagem. Se a pessoa está ali, ao seu alcance, fala para ela. Direto. Para que postar?
Declaração de Facebook é como jogo do bicho? Vale o que está escrito? Ou estava mais para propaganda eleitoral? Declaração de político sabe como é, né? Amam muito até a gente colocar o voto na urna. Depois... Facebook é, para muitos, uma espécie de revista Caras de pobre. Muitas fotos. Muitas declarações. Todos se amam. Muito e para sempre. Mas antes do número seguinte já estão pedindo divórcio. No próximo número: muitas fotos, muitas declarações. Só que com novos parceiros. Para sempre, é claro. Se amavam? Sim, até a próxima edição.
A mulher já estava chorosa. Não queria criar caso. Nem piorar a situação. Confirmou descrente:
- É...se amam...
Agora aos prantos, ela desabafou:
- Ai, eu queria tanto um amor assim...
- Mas eu te amo!
- É, mas não posta no Facebook...
- Não preciso postar, estou aqui! Falo para você pessoalmente! Olho nos teus olhos. Te abraço, te beijo, falo no teu ouvido.
- Aí ninguém vê...
- Quer que vejam para quê?
- Para saberem que você me ama.
- Você é quem tem de saber que eu te amo! E eu te amo, mulher! Estou aqui e te digo isso! Tem dúvida de que é amada?
- Não.
- Então por que sofre?
- Porque você não posta no Facebook...
E caiu num pranto convulsivo.
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