Trepadeira, do novo álbum do rapper, diz que mulher "biscate" deve tomar uma surra de espada-de-são-jorge
O rapper paulistano Emicida acabou de lançar o álbum independente O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui. Entre as faixas, levantou polêmica a batizada de Trepadeira. Como já é possível imaginar pelo nome, a "trepadeira" é uma mulher que (oh!) faz sexo.
O rapper paulistano Emicida |
Isso não quer dizer que Emicida é o grande culpado pela misoginia no mundo. Claro que não, mas não dá para "deixar passar" uma letra que sugere que uma mulher ativa sexualmente - biscate, segundo o autor - mereça uma surra (Merece era uma surra de espada de São Jorge).
A canção inteira é no sentido de desmerecer a mulher que faz sexo:
Você era o cravo e ela era a rosa,
e cá entre nós gatinha, quem não fica bravo
dando sol e água, e vendo brotar erva daninha.
Chamei de banquete era fim de feira,
estendi tapete mas ela é rueira.
Dei todo amor, tratei como flor,
mas no fim era uma trepadeira.
O recado de Emicida é que não se deve tratar bem (regar, cuidar) uma mulher trepadeira. Esse discurso é desumanizante, diminuindo a mulher apenas à vida sexual, desconfiando da dignidade em razão da quantidade de parceiros, julgando como não confiável uma mulher só porque ela não se submete a ser o "amuleto da sorte" do personagem (ele também usa a expressão "trevo de três folhas").
O músico tentou comparar Trepadeira com uma canção do disco anterior, Vacilão, em que o personagem não tratava bem uma mulher, saía com outras, e acabou sozinho. Bom, mais uma vez, basta olhar o nome da música: Vacilão. Quem vacila é bobo, se deu mal... só. Não existe julgamento de caráter baseado na vida sexual do tal "vacilão". Já o castigo da "trepadeira" não é ficar sozinha - é tomar uma surra.
E isso diz muito sobre como encaramos a sexualidade da mulher.
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