Fábio de Oliveira
Do UOL, em São Paulo
No trabalho, em casa, na escola ou nas relações amorosas, tem gente que tenta controlar tudo: da escolha da viagem em família ao que suas companhias pedem no restaurante. "Sem dúvida, trata-se de uma tendência de comportamento. Há pessoas naturalmente controladoras", afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR (Intenational Stress Management Association no Brasil). Essa forma de se portar, muitas vezes, se manifesta na infância e é reforçada na idade adulta, e pode fazer com que o indivíduo tenha problemas de relacionamento.
A psiquiatra Mônica Cereser, do Centro Psicológico de Controle do Stress, concorda que essa característica se desenvolve desde os primeiros anos de vida. "Os controladores, geralmente, aprenderam a pensar dessa forma", diz ela. Em outras palavras, o jeitão autoritário, mesmo que sutil --de quem dá uma ordem quase como se fosse um pedido ou se vitimiza e faz chantagens emocionais--, é resultado da soma de experiências provenientes do meio familiar, da escola e de todo o processo de socialização.
"O indivíduo controlador tem uma visão dogmática da vida, absolutista, pois, para ele, tudo precisa ser da forma como ele entende que é a correta", explica Mônica. "Não podemos generalizar, mas, frequentemente, essas pessoas escondem uma terrível insegurança, inconscientemente", diz ela.
De acordo com o psicólogo e psicoterapeuta Antonio Carlos Amador Pereira, que é professor da PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o controlador que sente a necessidade de organizar tudo, o tempo todo, carrega um traço obsessivo. "Enquanto não acerta um quadro que está torto, ele não fica tranquilo. Há uma dificuldade de lidar com suas questões internas, por isso tudo tem de estar arrumado". O afã de estar no comando pode levar o indivíduo a passar mal quando não é capaz de dominar uma situação.
"Essa pessoa, possivelmente, terá muitos prejuízos, uma vez que deixa de considerar que os outros também podem estar com a razão e que nem sempre existe um modo único de fazer as coisas e de pensar", diz Mônica Cereser. "Ela crê que seu jeito é o correto e acaba criando uma série de fatores estressores, a ela e aos demais". Sem contar na raiva e no ressentimento que provoca em quem convive com essa figura.
Diante desse quadro, a pergunta que surge é: dá para ser menos controlador no dia a dia? Para quem se encaixa nesse perfil e pretende mudar seu estilo de interagir com o mundo, UOL Comportamento preparou um pequeno guia:
1. Reconhecer-se como controlador
O indivíduo nem sempre percebe que é controlador. Quando alguém lhe mostra que é sempre ele quem toma as decisões e que tudo tem se ser feito à sua maneira, pode ser o primeiro passo para uma mudança. Por outro lado, existem aqueles que têm consciência do seu modo peculiar de ser, mas não demonstram interesse em mudar. Nesse caso, vale a pena avaliar os danos provocados por seus atos. Está sendo deixado de lado no trabalho? Os relacionamentos têm sido prejudicados? Ao assumir que esse comportamento provoca perdas, fica mais fácil começar uma transformação. Em geral, esse reconhecimento vem acompanhado de culpa e angústia.
2. Aprender a se controlar
Pode soar irônico, mas é essencial treinar o autocontrole. "É preciso se policiar, dar oportunidades para os outros também fazerem escolhas", diz Ana Maria Rossi. "Essa pessoa necessita, basicamente, se monitorar. Se ela modificar sua forma de pensar e transformar sua crença em valores mais possíveis, certamente deixará de ser tão controladora", explica Mônica Cereser. Para que isso ocorra, o indivíduo precisa se comprometer para que a mudança se torne real. No fundo, trata-se de um treino cotidiano com muita repetição para que o hábito saudável de raciocinar se instale.
3. No trabalho
O colega controlador costuma não ser um profissional flexível e acaba se tornando uma companhia difícil. Quando ocupa um posto de chefia, fica mais fácil imprimir sua personalidade (do que quando ele não tem nenhum subordinado). Nessa situação, a pessoa controladora deve tentar ouvir mais a opinião de sua equipe, antes de definir o cada um deve fazer em relação a um projeto específico, por exemplo. Também deve evitar ser centralizador. "O chefe que não delega e acha que só ele sabe fazer as coisas tem um gasto brutal de energia e acaba se esgotando", de acordo com Antonio Carlos Amador Pereira. Existe também o líder paternalista: para evitar a solidão, cria um ambiente no qual todos precisam dele o tempo todo. "É um armadilha, pois as pessoas pensam que ele é infalível", conta Pereira. No final das contas, o indivíduo fica sozinho, pois é visto como alguém invulnerável. Outro exemplo é o do controlador agressivo: passa dos limites e comete assédio moral.
4. Nas relações amorosas
Dialogar é preciso. Dar opções à cara-metade, também. Nada de decidir sozinho o programa de final de semana ou se vai ou não para a casa dos pais do marido ou da mulher. "Isso torna um cônjuge dependente do outro. Não é uma relação saudável", diz Ana Maria Rossi. Esse tipo de relacionamento pode resultar em ressentimento e raiva, com o passar do tempo. O que sempre abre mão de seus desejos para agradar o controlador, uma hora ou outra, não vai mais suportar tanto domínio.
5. Com os filhos
Crianças e adolescentes precisam ser controladas. Mas os pais devem controlar sem serem controladores, segundo Ana Maria. Isso pode ser feito com muita conversa. Uma estratégia eficiente é fazer com que o filho ou a filha tomem consciência do problema e se envolvam com a situação. Exemplo: se eles descumprirem o horário para chegar à noite em casa, os pais podem lhes dizer que tudo bem eles continuarem com suas amizades, mas que a casa tem regras. Por outro lado, há a mãe e o pai que criam uma situação de conforto ao extremo para controlar o filho, que acaba sem autonomia e nunca amadurece, explica Antonio Carlos Amador Pereira.
6. Com os amigos
Bate-papo tem tudo a ver com amizade. A arte de dialogar também deve ser cultivada entre amigos. Dessa forma, se você é daqueles que querem toda vez determinar o bar, o cinema, a balada, a música da festa e por aí vai, procure ouvir a opinião dos demais amigos e aceite sugestões deles também. Por mais que vocês acabem indo em um passeio que não é o seu favorito, ceder fará bem às suas relações.
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