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sábado, 24 de agosto de 2013

Conselhos para não seguir

As blogueiras que defendem o politicamente incorreto para quem quer se dar bem na vida

JÚLIA KORTE


SEM MEDO DE SER MÁ As blogueiras Jordana, Aleen  e Samantha.  Um tratado para desencaminhar moças do bem (Foto: Erin Baiano/New York Times)
SEM MEDO DE SER MÁ
As blogueiras Jordana, Aleen e Samantha.
Um tratado para desencaminhar moças do bem
(Foto: Erin Baiano/New York Times)
Elas tentam fazer o mínimo possível além de dormir, ir às compras e farrear até o dia amanhecer. Não poderiam ligar menos para atualidades, mas sabem tudo o que ocorre com as socialites. Jovens e egocêntricas, sua principal regra de vida é: não seja fácil, não seja pobre e não seja feia – não necessariamente nessa ordem. Esse é o mundo das betches, um universo de fantasia criado por três jovens americanas. Engraçado, ofensivo, está dando muito dinheiro para suas criadoras. As blogueiras Jordana Abraham, de 23 anos, Aleen Kuperman e Samantha Fishbein, ambas de 24, estão por trás do popular site americano Betches Love This e do livro Nice is just a place in France (Editora Simon&Schuster), entre os mais vendidos dos Estados Unidos.

Quiseram criar uma versão feminina de “bro”, cultura masculina que mistura cerveja e mulheres bonitas, popularizada no filme I hope they serve beer in hell (Espero que vendam cerveja no inferno). Em inglês, o termo “betch” vem de “bitch” (um termo ofensivo para mulheres) e já era popular na gíria jovem. O site é uma paródia da cultura de garotas que se espelham em mulheres superficiais, arrogantes e materialistas, com expectativas de beleza irreais. Como betches, as moças defendem que o objetivo é reforçar o amor-próprio das meninas e ajudá-las a cultivar o tipo de confiança capaz de transformá-las na mulher mais poderosa do mundo. O termômetro para saber quando isso ocorreu é ver quanto as pessoas a seu redor querem fazer as coisas por você, especialmente os homens. Não faltam conselhos irreverentes para construir essa imagem. Um deles diz que betches de classe não precisam de comida, mas sim de um cartão de crédito. Outro diz que, se não tiver nada maldoso para dizer, é melhor ficar calada. É óbvio que quem levar ao pé da letra esse tipo de conselho acabará sem amigos até o fim da vida.

Ao contrário da imagem que construíram sobre si mesmas, as moças estudaram sério. Jordana cursou políticas públicas, Aleen estudou relações de trabalho na indústria e Samantha encarou a medicina. Hoje trabalham muito para servir os mais de 140 mil seguidores no Twitter. Promovem seu livro. Criam e administram uma linha de roupas e camisetas divertidas com frases como: I wanna lose three pounds (Eu quero perder seis quilos). Negociam ainda um programa de TV e já trabalham num segundo livro. Elas não revelam quanto ganham. Dá para notar que não é pouco. Em dois anos, as três se mudaram para apartamentos no Upper East Side, o bairro mais caro de Nova York.

Por trás do sucesso da filosofia pregada por elas, está o mesmo fenômeno que conquistou público para séries como Gossip girls e filmes como Meninas malvadas. A mulher é, sim, um objeto, dizem. É possível ser muito feliz dessa forma desde que se aprenda a usar isso a seu favor. Quem acha que se dará bem lidando com uma mulher-objeto não sabe do que ela é capaz. Essa pregação encontra defensores e críticos. A acadêmica Sarah Kersh está entre os que consideram as betches fontes de humor saudáveis sobre algo que ocorre na sociedade. Professora do Centro de Estudos da Mulher, da Universidade Vanderbilt, ela escreveu um ensaio sobre o blog. “As pessoas buscam referência em cima de estereótipos”, diz Sarah. “Elas pegaram um, como o termo bitch, e deram uma conotação bacana e divertida.”

A banda dos críticos é mais numerosa. Defendem que boa parte do público é muito jovem e, por isso, facilmente influenciável. “As jovens precisam de aprovação social”, diz Rachel Moreno, autora do livro A beleza impossível (Editora Ágora). As betches são acusadas de dar ênfase à magreza e contribuir para que jovens desenvolvam distúrbios alimentares. Uma leitora disse que sua melhor amiga não comia havia duas semanas por causa de um texto sobre como ficar magra.

As próprias betches não acreditam que as levem tão a sério. Perguntadas sobre como o livro delas poderia ajudar alguém a evoluir, responderam: “Se você quer mesmo evoluir, é melhor ler Faça acontecer (livro da executiva do Facebook Sheryl Sandberg)”. Para quem consegue rir de absurdos, o texto das meninas é recheado de pérolas luxuosas.
As 10 maiores “betches” (Foto: Getty Images)

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