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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Meninas afegãs enfrentam o Taleban na escola


MATIULLAH AMIN
ESPECIAL PARA O "NEW YORK TIMES"

The New York TimesNós nos acostumamos com as terríveis notícias do Afeganistão nos últimos meses, especialmente ao nos aproximarmos da retirada das forças internacionais em 2014.
É fácil não perceber que alguns afegãos comuns estão trabalhando para construir um novo país -pessoas como Saba, uma corajosa estudante de 17 anos da Escola de Liderança Afeganistão (Sola, na sigla em inglês), um internato para meninas em Cabul. Ela é uma das nove jovens de lá que vão estudar em colégios e faculdades dos Estados Unidos com bolsas totais nas próximas semanas.
Vestindo roupas tradicionais afegãs, Saba, cujo nome foi alterado para protegê-la de extremistas que se opõem à educação das mulheres, chegou ao aeroporto Dulles, na Virgínia, há dois meses. Ela e suas oito colegas da Sola foram enviadas para programas de verão para se prepararem para os desafios que vão enfrentar.
Saba frequentou um internato perto do lago Winnipesaukee, em New Hampshire, para se preparar para um programa de quatro anos em um prestigioso colégio preparatório em North Andover, no Massachusetts. Saba superou suas colegas com sua personalidade e inteligência. (E, apesar de nunca ter praticado esportes, fez um home run, a volta completa, em um jogo de softball.)
Mas como ela acabou na Nova Inglaterra é a verdadeira história.
Zeba Hakeem, linguista afegã-americana do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, conheceu a irmã mais velha de Saba, Rana (cujo nome também foi modificado), em uma aldeia na província meridional de Helmand, um enclave taleban. Rana, que era parteira, havia se mudado da capital provincial para um distrito remoto para cuidar das mulheres da comunidade. Seu pai a apoiou e foi ameaçado por permitir que um membro feminino da família trabalhasse fora de casa. (Durante o regime taleban, as mulheres não podiam trabalhar fora de casa ou ir à escola.)
Quando Hakeem finalmente conheceu Saba, ficou impressionada por sua determinação e seu amor à educação. Ela consultou cautelosamente o pai de Saba sobre a possibilidade de enviar sua filha para frequentar a Sola, e ele rapidamente concordou. O pai de Saba recebeu diversas ameaças de morte dos taleban por permitir que sua filha frequentasse a escola a centenas de quilômetros de casa, e ele escapou de um atentado a bomba que pretendia matá-lo. Apesar disso, continua comprometido com o sonho de sua filha.
Saba chegou à Sola quase dois anos atrás, sem falar inglês. Ali ela assinou um acordo pelo qual as estudantes se comprometiam a só se comunicar em inglês. Pela primeira vez, ela teve um computador laptop, que chamou de sua janela para o mundo.
Mantendo-se fiel à promessa da língua e trabalhando estreitamente com seu mentor on-line, Charles Fisher-Post, dentro de um ano Saba falava e escrevia em inglês. Formado em história pela Universidade Harvard, Fisher-Post viu Saba crescer intelectual e pessoalmente ao longo dos anos. Antes tímida, "agora ela não tem medo de se expressar e conhecer novas pessoas", disse ele.
Na escola de verão, Saba progrediu, mas enfrentou desafios para se adaptar a uma cultura diferente. Esses obstáculos incluem coisas simples, como não ter um pedaço de pão árabe em toda refeição e o desconforto de usar um lenço na cabeça em clima quente. Ela também estava a milhares de quilômetros de sua família durante o mês sagrado do Ramadã. Foi a primeira vez em que não esteve com eles durante o Id al-Fitr, a comemoração que encerra o jejum do Ramadã.
Uma de suas maiores adaptações foi ao ambiente educacional misto. Ela nunca tinha frequentado uma escola mista, com meninos e meninas, e disse que levou tempo para se acostumar.
Algumas horas antes de seu voo decolar do aeroporto de Cabul, o pai de Saba lhe disse: "Trabalhe duro e tenha sucesso nos estudos, não apenas por si mesma mas por todas as mulheres da sua aldeia que nunca foram à escola".
Saba está decidida a deixar seu pai orgulhoso.
"Se meu pai pode suportar ameaças por mim, eu devo afirmar meus direitos e a confiança de meu pai em mim", disse ela.
Saba quer voltar para o Afeganistão e ajudar as mulheres de sua comunidade quando concluir os estudos. Para uma afegã educada no Ocidente, voltar para sua comunidade não será fácil, porém. Saba enfrentará ameaças de extremistas, mas, assim como seu pai, ela disse que essas ameaças não impedirão que ela se dedique às mulheres de sua aldeia.
Toda garota da Sola tem uma história semelhante. Há muitas afegãs e outras pessoas em todo o mundo que as ajudam a realizar seu sonho de um futuro melhor. Os afegãos comuns estão dando passos para construir um futuro mais luminoso, mesmo diante de ameaças de morte.
A história de Saba salienta por que a comunidade internacional não deve abandonar o Afeganistão, mas precisa trabalhar para apoiar a população, especialmente as meninas e mulheres em sua luta para conquistar vidas mais pacíficas e prósperas.
Matiullah Amin é presidente da Iniciativa Jovem Afegã e membro do conselho e do comitê executivo da Escola de Liderança Afeganistão

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