Gesto tem peso simbólico, apesar da pouca relevância das câmaras municipais
ÁNGELES ESPINOSA Riad 1 MAY 2015
"Comissões locais com 20% de integrantes mulheres foram estabelecidos em todas as regiões para organizar as eleições", declarou Abdulrahman al Dahmash, presidente da Comissão Eleitoral saudita, citado pelo jornal Arab News. O funcionário também declarou que “serão tomadas medidas especiais para que a participação das mulheres seja conforme a lei islâmica”, sem esclarecer em que consiste isso.
Há quatro anos, quando o então rei Abdullah concedeu por decreto o direito ao sufrágio feminino, a decisão foi manchete em todos os jornais do reino, mas desde então não houve ocasião para que essa novidade fosse implementada. “A sociedade saudita mudará para sempre”, comentou o Arab News. As próprias interessadas, no entanto, se mostram menos entusiasmadas. Apesar da carga simbólica do voto feminino num país onde as mulheres ainda são proibidas de dirigir veículos e carecem de personalidade jurídica independente do pai ou do marido, a realidade é que nem as câmaras municipais nem o Conselho Consultivo (Majlis al Shura, até agora designado pelo rei) têm poder verdadeiro.
Como reflexo disso, a última eleição promovida no país, em 2011 —com voto exclusivamente masculino—, teve abstenção elevada. Apenas um quarto dos homens maiores de 21 anos se registrou para exercer esse direito, e nem todos foram às urnas. A irrelevância das câmaras, comprovada depois das primeiras eleições, em 2005, levou destacados intelectuais a boicotarem a convocatória e duas importantes organizações (a Associação Nacional de Direitos Humanos e a Associação de Jornalistas) a rejeitarem o papel de observadores.
Talvez com o objetivo de atrair um número maior de eleitores, as autoridades agora reduziram para 18 anos a idade mínima para o voto, num país eminentemente jovem, onde 60% da população tem menos de 30 anos.
Esse aceno é especialmente significativo por causa das mudanças em curso na cúpula do poder depois da morte do rei Abdullah, em janeiro. Exatamente nesta semana, o novo monarca, o rei Salman, concluiu uma reforma na ordem sucessória e no seu gabinete, reduzindo a idade média dos dirigentes de 79 para 56 anos. Apesar de não ter havido mudanças de política interna, as nomeações apontam para um desejo de melhorar os serviços públicos e reduzir a burocracia.
Além disso, de acordo com Al Dhamash, as novas câmaras municipais terão maiores poderes para controlar o desempenho das prefeituras, incluindo a atribuição de supervisionar orçamentos, investimentos e projetos de desenvolvimento. Nesta terceira convocatória, os sauditas poderão escolher dois terços dos vereadores, e não mais metade, como ocorria até agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário