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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Férias de casal e o futuro da nação

ISABEL CLEMENTE
   
Quem me conhece pelos meus escritos, sabe o quanto eu me divirto no papel de mãe e o quanto eu me envolvo com esse delicado processo de criar dois seres humanos. Quem me conhece pessoalmente sabe o malabarismo que eu faço para dar conta de tudo isso. E eu, que me conheço razoavelmente bem, sei também dos meus dramas. Eles vão de um cansaço absurdo quase diário à falta de tempo para o casal do qual faço parte. Falta tempo para mim também mas quero falar da vida a dois.

Planos audaciosos como passar três dias fora requerem um serviço de inteligência (pensar como fazer, para onde ir...) e uma estratégia de guerra para executar (que sentinelas estarão a postos, quem pode cuidar...).

Nem todo mundo tem uma infraestrutura que funciona. Muitos casais não contam com ninguém de confiança, ou não têm grana para contar. Há os que não se sentem à vontade em delegar ou que, pelo número de filhos, ficam sem jeito de distribui-los por aí só porque precisam “aproveitar“ uma noite inteira de sono. Tem ainda os que estão “amarradões“, curtindo adoidado aquela criança tão desejada e planejada que acabou de chegar. Tipo, há cinco anos e meio. Nossa, já faz tudo isso? Eles irão se perguntar quando perceberem que nunca mais deram uma escapadinha a dois.

Se você se identificou com alguma situação antes descrita, bem-vindo ao clube. Eu não dava uma escapadinha dessas mais longas há dois anos, nove meses e 21 dias. Quando meu plano infalível funcionou, eu estava praticamente no éden. Foram três dias sem dar bronca, sem distribuir ordens, sem apartar brigas, sem ouvir reclamações e demandas. Fiquei três dias inteiros sem ver meu marido franzir a testa. Ninguém gritou “acabeeeeei“ enquanto eu fazia uma refeição, ninguém me chamou no meio da noite. Fui ao banheiro SOZINHA! Não mandei ninguém parar de pisar no chão frio descalça, escovar os dentes ou pentear os cabelos. Foram três dias em que eu estava desobrigada de virar a chave do modo mãe para o modo namorada porque no filho a gente manda (“Não saia da mesa antes de acabar!“), o marido a gente convida (“gostaria de parar de assistir um pouco a TV e jantar comigo agora?“). E é claro que a gente esquece de apertar esse botão de vez em quando e sai mandando em todo mundo. Eu era uma mulher sem obrigações, uma versão quase perfeita de mim mesma.

A triste verdade é que muitos casais naufragam quando percebem tarde demais o quanto se descuindaram um do outro. Juntos e empenhados em cultivar a vida em família, deixaram de testar os demais laços que deveriam dar retaguarda para a desgastante e emocionante aventura de ter filhos. Atração, cumplicidade, humor, identidade, admiração e tudo o mais que valorizamos numa relação acaba ficando em segundo plano diante de uma criança que precisa ser amamentada, entretida, ensinada, acalentada e por aí vai. A coisa só complica com o aumento do número de filhos. Não é fácil.

A presença ostensiva dos filhos nos distrai. Ela preenche até as lacunas que não se sabiam vazias. Filhos dão um novo sentido à nossa vida como se, enfim, tivéssemos encontrado um lugar especial no mundo. É muita tarefa. E muito amor. Nunca mais seremos pessoas à toa. Encantados com a missão, a armadilha é o casal se perder um do outro. Não é por outro motivo que muitos casamentos se desfazem depois que os filhos saem de casa. É como uma ponte que ruiu deixando a dupla em margens opostas. Surgem o vazio e mil perguntas. Onde você esteve todo esse tempo enquanto eu era mãe? E você, virou mulher quando enquanto eu me esforçava em ser pai? Filhos crescem mas todos continuamos em evolução. Não acompanhar a transformação do outro ou não se interessar por ele, é parar no tempo o casamento que começou bem.

Não, eu não estou aqui dizendo que filhos destroem um casamento ou algo assim. Muito pelo contrário. Eles são o fruto desse amor. Sacrifícios fazem parte dessa história. Há tempo de plantar e de colher, de farrear e de se recolher. Crianças pequenas exigem muito “recolher“. Decididamente, você quase não irá a festas. Mas o casal atento a si mesmo cultiva a relação em pequenas doses diárias de atenção. Manda torpedos. Faz gracinhas nas entrelinhas. Cria piadas que só eles entendem. Deixa de dormir, namora na madrugada e elogia as olheiras um do outro no dia seguinte. Mas tirar férias a dois é uma bênção, um serviço de utilidade pública. Casais felizes são pais melhores. Pais melhores educam com mais amor. Crianças amadas farão a sociedade progredir em valores humanos. E mais humanidade é o que todos precisamos. Portanto, bora fazer um plano que requer disciplina (juntar dinheiro!), humildade (pedir ajuda!) e determinação (não ceder à própria saudade nem aos apelos e às chantagens dos filhos, porque eles sabem muito bem fazer isso!). Pense nisso e boa sorte.  

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