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domingo, 18 de agosto de 2013

Jovem canta em rap as dificuldades das mulheres afegãs

A inspiração de Paradise Sorouri vem de celebridades pop como Rihanna e Jennifer Lopez. Mas as letras de suas canções falam das agressões às mulheres no Afeganistão

Gabriela Loureiro
Paradise Sorouri
“Minha música desta vez é sobre a história de uma mulher, uma mulher afegã em sua terra natal. Eu quero ser a voz de uma mulher, nem mais nem menos. Eu exijo meu direito, até quando eu devo ser uma escrava da tirania? Não existem direitos humanos para todos? Por que eles querem que eu seja menor que os homens?”, diz a letra da música Faryade Zan, ou O Grito de Uma Mulher.São poucas as afegãs que ousam sequer levantar a voz para o marido, mas Paradise Sorouri troca o véu islâmico por um moletom com capuz e canta, no ritmo do rap, as agruras da vida no Afeganistão, um dos piores países do mundo para ser uma mulher. Ela canta em farsi e, especialmente, em dari, o dialeto falado no Afeganistão, para onde voltou este ano, depois de longos períodos de refúgio em países vizinhos. Mas suas influências são ocidentais: Rihanna, Jennifer Lopez, Nicki Minaj.

A canção foi escrita depois de Paradise ser agredida por cinco homens no Afeganistão. O clip da música, visualizado mais de 8 000 vezes no Youtube mostra a cantora de 28 anos de tênis e calça estilo militar, com os cabelos bagunçados e sangue na boca.
“A vida difícil que eu e outras mulheres vivemos no Afeganistão me forçou a passar os problemas para o papel. Uma vez, quando eu voltava do estúdio para casa, eu fui atacada por cinco homens. Eu estava com meu irmão mais novo e eles nos espancaram até ficarmos inconscientes e ninguém fez nada a respeito. Mesmo assim, eu nunca vou desistir”, disse ao site de VEJA.

Em suas músicas, Paradise fala sobre a Guerra no Afeganistão, a violência contra as mulheres e também sobre amor. Das sete músicas de seu primeiro álbum, The First Time  (A Primeira Vez), quatro têm temática política e falam sobre a situação social no Afeganistão, e as outras são sobre amor e festas. Uma delas, Nalestan (A Terra do Choro), fala sobre a violência contra as afegãs. “Eu queria correr, mas fui esfaqueada pelas costas. Eu queria pensar, mas fui espancada na cabeça. Queimaram meu rosto em nome do Islã e caí em desgraça em nome da vingança. Jogaram ácido em mim e me venderam, pois minha alma já estava morta”.
Além de ser mulher, Paradise é cantora, e cantora de rap, o que torna sua vida muito mais difícil no Afeganistão e, sua segurança, mais vulnerável. “Eu fui assediada na rua muitas vezes, até demais. Os afegãos me tratam de uma forma diferente e eu sempre me sinto insultada e insegura quando saio de casa”, conta ela. “Ser uma mulher, até mesmo coberta inteiramente por uma burca, significa ser assediada. Então você pode imaginar como eles chamam uma cantora. Eu vou lhe dizer como eles chamam: prostituta. E sim, é assim que meu amado povo do Afeganistão me chama”.

Histórico – A sorte de Paradise foi ter pais que sempre incentivaram os cinco filhos, três meninas e dois meninos, a desenvolver seus dons artísticos. Nascidos no Afeganistão, seus pais deixaram o país como refugiados na década de 1970, em meio aos conflitos políticos que culminaram com a invasão soviética. Paradise nasceu no Irã, mas sempre manteve laços com o Afeganistão, que considera seu país natal. E para onde ela voltou em 2007, quando foi morar na província de Herat, no oeste, perto da fronteira com o Irã. Nessa época, conheceu Ahmad, seu noivo e parceiro musical. Os dois montaram a 143Band, mas as dificuldades técnicas para viabilizar as gravações e, principalmente, a crescente insegurança em Herat os levou à decisão de se mudar para o Tadjiquistão. Foram três anos no vizinho do norte até a volta ao Afeganistão, desta vez, para a capital Cabul.

Paradise consegue traçar um paralelo entre os três países em que viveu, no que se refere às dificuldades impostas às mulheres. O pior, de longe, é o Afeganistão, segundo ela. “A maioria das mulheres afegãs não consegue nem sequer pensar sobre liberdade e igualdade entre homens e mulheres. Elas têm medo dos homens de suas próprias famílias”, afirma. No Tajiquistão, ela diz que as mulheres não têm liberdade para tomar decisões. E, apesar dos inúmeros interditos que o fundamentalismo islâmico impõe às mulheres no Irã, ela considera o país o menos infernal dos três em que morou. Talvez porque no país dos aiatolás ela teve aulas de atuação com diretores e atores iranianos e participou de um coral. Tudo com o incentivo da família. “Meu pai costumava tocar teclado e tar (instrumento de corda), e meu irmão e eu cantávamos com ele. Eu também cantava nas festas e reuniões de família enquanto meu pai tocava. O maior sonho dos meus pais era que seus filhos trabalhassem com arte”, diz.

Sendo assim, ele também sempre a levou a se familiarizar com outras culturas. Com isso, ela manteve os olhos abertos ao que acontecia em outros países e pôde conhecer artistas que a influenciaram musicalmente, como Eminem, Jay-Z, Beyoncé,  Jennifer Lopez, Rihanna, além da iraniana Googoosh. Outras celebridades também servem de inspiração para Paradise, como as atrizes Angelina Jolie, Charlize Theron, e as iranianas Niki Karimi e Leila Hatami. Paradise diz que também gosta de ler Shakespeare e Dr. John Gray, autor de best sellers de comportamento como Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus.

Ela pretendia seguir seus estudos e entrar em uma universidade afegã, mas considera a falta de segurança um obstáculo. “No Afeganistão, há universidades privadas e públicas que são financiadas por estrangeiros e às vezes até contam com professores estrangeiros. Mas a educação não está disponível igualmente entre homens e mulheres. Pressionadas a serem fechadas e não intelectualizadas, as mulheres são excluídas do ensino superior”.

A insegurança da qual ela fugiu em 2010 segue presente. A cantora, que conta com o apoio da família para se manter, diz que prefere sair de casa sempre de táxi, mesmo quando está acompanhada do noivo, para evitar insultos. “As pessoas nos encaram na rua como se tivéssemos feito algo errado, e me insultam na frente do meu noivo. Em um país como o Afeganistão, é muito difícil ser uma cantora, ter a mente aberta e ser diferente. As pessoas, ou melhor, os homens, não aceitam”.

Mesmo assim, ela já conseguiu fazer algumas apresentações no Afeganistão, inclusive em um festival. No país em que a música já foi proibida, alguns eventos agora conseguem proporcionar um relativo respiro em um ambiente ainda em sufocante tensão, mais de dez anos depois da entrada dos Estados Unidos. O regime do Talibã foi derrubado, mas não deixou de aterrorizar o país. Paradise teme que mais insegurança esteja reservada para o Afeganistão quando as tropas estrangeiras deixarem o território. “Eu acho que depois da retirada das tropas da Otan nós enfrentaremos uma guerra civil, que causará profundos danos humanos, culturais e econômicos”.

http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/jovem-usa-rap-para-exigir-direitos-das-mulheres-no-afeganistao

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