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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

'Prisão nos EUA vai desabar', diz filósofo


CASSIANO ELEK MACHADO
DE SÃO PAULO
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Ao final de sua conferência, na noite de quarta, em São Paulo, o filósofo inglês Kwame Anthony Appiah lançou uma pergunta à plateia.
"Que aspecto do Brasil de hoje vai fazer os seus netos sentirem vergonha do país?"
Antes, o professor da Universidade de Princeton listou aquilo que mais o envergonhava no país adotado por ele, os Estados Unidos.
"Cerca de 1% da população do país está na cadeia. É a maior proporção de presos do mundo, em qualquer lugar, em todos os tempos", disse ele, em palestra do ciclo Fronteiras do Pensamento.
"Isso deveria ser o bastante para fazer com que os EUA perdessem o respeito de outros povos."
Appiah, 59, um dos maiores especialistas do mundo em temas como honra, identidade nacional e moral, ponderou que uma declaração no início desta semana o deixara otimista sobre o tema.
Na segunda-feira, o secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder, afirmou, em pronunciamento em San Francisco, que tomará medidas para reduzir a população prisional.
Holder defendeu que se evitassem prisões e que as penas fossem reduzidas em casos de porte de pequenas quantidades de drogas. Para Appiah, isso pode diminuir o "aprisionamento em escala industrial", já que 40% dos presos no país têm penas relacionadas às drogas.
Se aprovada, a proposta de Holder se somaria a outra elogiada pelo filósofo, a lei que define punições a estupros na cadeia. Segundo Appiah, o país detém o recorde mundial em violência sexual carcerária, com 100 mil casos.
De acordo com ele, o silêncio da sociedade norte-americana com relação a estas "calamidades morais" é ilustrativo daquilo que ele chama de "ignorância estratégica", quando um povo decide fazer vistas grossas a fatos bastante documentados.
Appiah listou uma série de episódios históricos em que povos de diferentes países ignoraram distorções morais.
"Há não muito tempo, nos Estados Unidos, famílias faziam piqueniques ao lado de árvores onde estavam pendurados os corpos de negros recém-enforcados", disse.
Na palestra, no teatro Geo, o professor também deu exemplos de casos em que países viveram revoluções morais. Tal como relata em seu livro mais recente, "O Código de Honra" (Companhia das Letras), no século 19 a China aboliu um hábito milenar em apenas duas décadas.
"Ao longo de mil anos, em toda a China, atavam-se os pés das meninas para que não crescessem, chegando a medir 7,5 cm numa adulta."
O empenho de alguns missionários cristãos estrangeiros, que criaram uma campanha contra a prática, levou o povo chinês a encarar como uma questão de honra nacional a erradicação da tradição.
"A campanha só funcionou porque os missionários souberam mobilizar a honra da nação e o fizeram respeitando a sabedoria chinesa."
Para Appiah, em todos os casos em que campanhas semelhantes tentaram abolir alguma tradição por "imposição" (ele citou a prática da mutilação genital, no Senegal, como exemplo) terminaram reforçando estes hábitos.

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