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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

“Para a mulher negra, escrever é um ato político”, afirma escritora Conceição Evaristo no 6º Festival Latinidades


01/08 - “Para a mulher negra, escrever é um ato político”, afirma escritora Conceição Evaristo no 6º Festival Latinidades
Conceição Evaristo fala sobre racismo e sexismo no país Foto: Tainan Pimentel/SPM
Na mesa de diálogo “Mulheres Negras Construindo sua História”, realizada com o apoio da SPM, autora incentivou a expressão literária e alertou para a ação do racismo nas artes e na academia
 
Homenageada do 6º Festival Latinidades 2013, a escritora Conceição Evaristo destacou que a mulher negra deve escrever sua história, já que ela não é contada por mais ninguém. “Para a mulher negra, escrever é um ato político”, declarou na mesa de diálogo “Mulheres Negras Construindo sua História”, organizada com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).
 
Reconhecida por sua produção reveladora do universo das mulheres negras e das relações raciais no Brasil, a autora incentivou o público do Latinidades a se expressar por meio da literatura. “Temos de nos apropriar das nossas histórias. Se não as contarmos, ficarão esquecidas”. E recuperou a constante luta das afro-brasileiras por visibilidade e respeito na sociedade, frisando: “quando a escrita é pessoal, a mulher negra está assumindo o direito de ser representada”. 
 
Sobre as dificuldades que as mulheres negras têm em tornar públicas suas ideias, Conceição alertou para o racismo linguístico, por vezes velado, existente no âmbito acadêmico. “Dizem que nosso texto é militante, literário... São formas de dizer que nossa presença incomoda e que não deveríamos estar ali”, sentenciou.
 
Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense, em 1990, passou a publicar nos Cadernos Negros, editados pelo Quilombhoje, nos quais mantém constante produção de contos e poemas. Suas obras mais recentes são: os romances Ponciá Vicêncio (2003) e Becos da Memória (2006), Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e o livro de contos Insubmissas lágrimas de mulheres (2011). Soma, ainda, publicações em antologias na Alemanha, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na África do Sul e em Angola.
 
No início deste ano, Evaristo foi uma das especialistas convidadas a participar da comissão julgadora do prêmio “Mulheres Negras Contam sua História”, iniciativa da SPM com o apoio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). O concurso agraciou cinco autoras de ensaios e cinco de redações, além de duas menções honrosas em cada categoria. Também fizeram parte da comissão julgadora: Cidinha Silva, Maria de Lourdes Teodoro, Matilde Ribeiro, Sueli Carneiro, Tania Toko e Valdice Gomes da Silva.
 
Resgate de sujeitos históricos – No Latinidades, a coordenadora-geral de Diversidade da SPM, Lurdinha Rodrigues, explicou que a premiação teve como objetivo estimular a reflexão sobre violência e superação do racismo e de todas as formas de preconceito e discriminação. “Foi um resgate do anonimato das mulheres negras como sujeitos na construção da história do Brasil”, avaliou Rodrigues na mesa de diálogo “Mulheres Negras Construindo sua História”, realizada na quinta-feira (25/07), em Brasília. A atividade recuperou o debate sobre os textos inscritos no concurso.
 
Para Lurdinha Rodrigues, o festival demonstra, ano a ano, a força das mulheres no enfrentamento ao racismo. Em sua sexta edição, teve apoio, pela primeira vez, da SPM.
 
Povo quilombola – Na mesa de diálogo, uma das premiadas na categoria ensaio do prêmio “Mulheres Negras Contam sua História”, revelou a história da comunidade quilombola de Pimentel, localizado em Pedro Leopoldo (MG). Cláudia Marques de Oliveira, do Programa Ações Afirmativas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), registrou que grupo vive há mais de 200 anos no local, mas não faz parte da história oficial da cidade, que tem apenas 89 anos.
 
A comunidade, que já teve três mil habitantes, hoje em dia tem menos de 30. Por causa do ativismo em prol do reconhecimento do grupo, Cláudia Marques já sofreu ameaças de morte e adoeceu. “Foi quando o prêmio surgiu. Para mim, foi uma oportunidade de recomeçar a luta e a minha própria vida”, disse.
 
Atualmente ela, que é descendente do povo quilombola gurutubano, luta pela implementação da lei 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino o ensino da história e cultura afro-brasileira. “Agora minha batalha pelos quilombos será via educação”, acrescentou Cláudia.
 
A coordenadora do Teatro Popular (SP), Raquel Trindade, não pôde comparecer à mesa de diálogo, em que seria debatedora. Em mensagem enviada para o evento, avaliou o significado do Festival Latinidades. “Dá a necessária visibilidade ao histórico de lutas e resistência da mulher negra na América Latina e traz à reflexão de temas relacionados ao racismo, sexismo, machismo e superação de desigualdades, com recorte de gênero e raça”, considerou ela, que foi premiada na categoria “redação” do prêmio “Mulheres Negras Contam sua História”.
 
A mediação dos debates foi feita por Cecília Bizerra Sousa, jornalista do Observatório do Direito à Comunicação e mestranda da Universidade de Brasília (UnB). 


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